Pular para o conteúdo

Um feriado, dois bolos

Você vai escrever sobre Fernando, o gato que come bolo de banana. Sobre o frio, o calor. Sobre os textos atrasados, o curry que você acaba de fazer depois de dar aulas no feriado. Você vai escrever sobre como você fica feliz e aliviada por dar aulas no feriado. Você vai escrever sobre o bolo da dona Dioneia (é hoje, Brasil). Você vai escrever sobre a dor no coração de ver sua gatinha Mila Sempre Bebê ficando velhinha. Você vai escrever sobre a conversa que teve com a Telinha, sobre sua lista de quefazeres, sobre o livro do Marcelo Lins.  Você vai escrever sobre a absurda quantidade de coisas que você não sabe. Sobre a compra na Zona Cerealista. Você vai escrever (xingando) sobre essa caralha desse bando de paulista que não sabe votar. Você vai escrever sobre o cheiro do xampu, o cheiro do chá novo, o cheiro do creme sem cheiro (é um cheiro horrível), sobre o abraço do domingo, sobre a prateleira pro iglu dos gatos, sobre a imensa falta que ele lhe faz. Você vai escrever sobre escrever. Sobre concatenar palavras grandes e pequenas, sobre o medo de errar, sobre o medo de não ter ideias novas, sobre o capítulo interminável. Você vai escrever.

O céu que nos protege (ou desaba sobre nossas cabeças, who knows?)

Brilha no firmamento uma estrelinha cuja única missão é guiar os tolos para fora das brumas. Quer crer nisso como em poucas coisas na vida.

*

A vida que eu deveria ter e não tive me chamou para um café. Depois de todos esses anos e depois de tanto me empurrar para longe, um café. Não beberemos café, meu querido A vida que eu deveria ter e não tive porque eu estou mais velha (meu Deus, bem mais velha) e um tantinho mais sabida. Além disso estou, paradoxalmente, mais em carninha viva e mais cascuda. Não caio em armadilha, especialmente nas que eu mesma armei, tale quale a fia da Chiquita, aquela.

*

Juntei roupas e tralhas. Guardei um monte de livros nas estantes do quarto. Sim, de novo. O meu lindo projeto “Terei um quarto de mulher” ficou para a próxima encadernação.

*

Tem quem procrastine arrumando gavetas. Procrastino ouvindo música boa e escrevendo num blog completamente morto. Quase meia-noite, yours truly deveria estar escrendo o conto dos pássaros de olhos ruins.

Caymmi

A cada temporada e meia me aparece uma sumidade afirmando que que não, não devemos sofrer por amor, que amar é desapegar, deixar fluir e criar o bicho solto (opa). Você, não sei, mas eu sofro por amor e quem paga o pato é a adega do meu velho e saudoso pai.

Ah, vá, sofremos, sim, por amor. Escorremos pela parede do box e choramos debaixo da água morninha. Sofremos por amor quando queremos alguém que não nos quer. Quando alguém nos quer e, por nada desse mundo, conseguimos amar de volta. Quando alguém nos quer, mas também quer outra pessoa. Quando nós queremos alguém e precisamos voltar para casa. Sofremos e sofremos e sofremos por amor de todas as formas, porque sim.

Eu estava pensando aqui: poucas vezes o sofrimento por amor é mais devastador do que aqueles minutos em que assistimos o objeto de nosso amor se vestir, sabendo que não há volta. Uma perna na calça jeans, depois a outra, cada botão da camisa dentro da casinha certa, pés definitivamente enfiados nos sapatos e você sentada no meio da cama, abraçando o edredom e fazendo o possível para não chorar. Em vez de falar sobre o tempo, a defesa do Guarani ou declamar um versículo da Bíblia, a criatura inconsciente faz o quê? Canta que só louco amou como ele amou. Sério, seu puto? É sério que você vai cantar isso enquanto sai da nossa vida? Sofrer por amor é sempre ruim, doloroso, humilhante e patético, mas esses poucos instantes que transformam o cretino nu num fariseu vestido, que dará um beijo na minha testa para, em seguida, bater a porta é, de longe, o mais doloroso dos momentos. Depois que ele saiu eu me levantei e entrei no chuveiro ouvindo o som de vidro estilhaçado sacudindo dentro do meu peito.

Ah, insensato coração. Por que me fizeste sofrer.

Na segunda-feira estaremos na metade de agosto

Textos se acumulam. Dos clientes. Os meus não mais, larguei todos. Amiga me pergunta dos textos de museu e eu me lembrei do escrito a respeito das Bodas de Caná, começado há mais de três meses. Morto, talvez. Provavelmente. Eu só queria sumir. Deixar de ser. É um cansaço sem nome.

*

A semana pareceu que jamais, mas jamais mesmo, teria fim. Well, passa das oito da noite e vejo que estava certa, porque ela ainda não acabou.

*

Coisas que nunca pensei que entrariam na minha lista de compras, mas a vida me obriga, parte 3149:

uma caixa grande de caixa de ferramentas para guardar a abissal quantidade de ferramentas dessa casa

*

Amiga me chamou pra fazer teatro. Vamos, Fal, só tem véio no grupo, vamos montar um Nelsão, é divertido, é isso, é aquilo. Nem respondi, não sei o que dizer. Lembro dos grupos de teatro de quando eu era menina, a entrada em cada um, a emoção, a delícia, os novos amigos, os textos, apresentações nos parques. Corais, a mesma coisa, sempre a soprano mais afinada, mais feliz, mais encantada. Não canto há mais de trinta anos, não imito uma arvore há mais de quarenta.

O mundo das artes suspira aliviado.

*

Reli textos velhos para produzir coisas novas. Reli as respostas de D., pois sou desse tipo estúpido, guardo tudo em montanhas de arquivos bem arrumadinhos: ele sabia. Como eu posso, sempre, ser tão burra, me achando tão esperta, um estudo de caso. D. simplesmente sabia. Quando finalmente confrontado, jurou um não, batendo pestanas, dedinhos contra o peito, o que só torna tudo pior porque é só reler o que ele escreveu. Sinto imensa vergonha de mim.

*

A Globonews parece selecionar os novos jornalistas por sua capacidade em engolir saliva no meio da frase, o que nos deixa, Maliu e eu, com vontade de morrer.

*

Abobrinha em conserva na lista de coisas maravilhosas que sempre queremos, parte 3.

*

O Brasil me enoja, me surpreende, me diverte, me assusta. Não necessariamente nessa ordem.

É muito papel nessa casa

O pai, o filho e, se você estiver usando os óculos certos, dá pra ver o Espírito Santo também

Sinto saudade de comprar os jornais de domingo (a gente comprava até os de fora de SP, o Globo, o Zero Hora, o Correio) e ler tudo com a minha mãe, comendo pão de padaria e dando risada. A gente ainda dá risada até as veias dos olhos explodirem, mas é diferente. Bem, a vida, a vida é diferente. Sinto uma falta imensa de abrir o jornal e ler o Verissimo. Não leio mais jornal e não me envergonho. Teve uma época da minha vida que eu morreria antes de dizer um trem desses. Agora digo tranquilamente. Tem algum colunista que vocês (virtualmente, eu sei) abrem o jornal pra ler? O que é que vocês estão lendo assim, com amor, com devoção? Alguém?

A conversa da Guilda hoje foi quase que só acerca de livros – teve também umas fofocas suculentas e narração das minhas trabalhadas de mulher-idiota-que-mora-só (minha mãe viajou) – mas no geral, falamos de livros. Falaram. Eu meio que mais ouvi do que falei, como de hábito.

Conversê acabou, dei conta das minhas tarefas ouvindo a live do Julio, subi, vi série ruim (ainda tou vendo) e agora que não consigo dormir nunca mais na minha vida (violinos), fui pra internet fazer minha segunda coisa preferida: acumular fotos sobre um assunto específico (minha primeira coisa preferida de fazer enquanto ouço séries ruins – cada um tem O direito de nascer que merece – é arrumar as fotos roubadas pela rede, cada uma em uma pastinha certinha, numa ordem imaculada que seria de grande valia em minha vida fora da tela).

Meu assunto de hoje foram fotos dos Verissimos. Muitas, muitas. Inundarei esse blog com elas. Pensando no Verissimo filho, pensei em jornais etc. e senti saudade daquele tempo. De quando eu lia as crônicas dele e recortava e colava no caderninho – coisa que fiz até ele deixar o Estadão há dois ou três anos. Me dei conta de que não leio mais com tanta alegria. Só releio meus velhos. Mas não vou, realmente, com fome para o texto de quem quer que seja. Nem nos jornais, nem fora deles. Leio autores novos na medida do possível, e releio meus amores de sempre. Mas sem joelhos bambos, olhos marejados, mãos tremendo. Se isso for envelhecer, tou odiando. Nada de paixões para mim, ao que tudo indica, nem nas prateleiras. Nada mais me move tanto assim.

(isto posto, falta um tico preu refazer a coleção completa de Fradinhos que meu velho detonou feito o irresponsável que era e, ai, como é maravilhoso ler o Henfil escrevendo cartas à margen de cada folha, de cada caderninho – outro cara que amo)

catiorro

não consigo mais escrever cachorro, agora só chamo eles de catiorro.

que saudade do meu baquinho.

Vem cá, meu bem

Repetir para Elaborar

Reclames do Drops

Rádio Drops

Piu Piu

[fts_twitter twitter_name=dropseditora tweets_count=2 cover_photo=no stats_bar=no show_retweets=no show_replies=no]

Instagram

[fts_instagram instagram_id=17841405821675374 access_token=IGQVJYOEVGYllBNkJDd3NXWFJMYW9YRllGN0FfaDdadjVvNnVIWWVrMkdLMnBrT1UySXVDVTVWZA01tQmlYbkszRTBnTUo1eTFhUHR3RFFfa3ZAVa3BQY05SeTZAma1JfbFpQZADZAaVEpB pics_count=2 type=basic super_gallery=yes columns=2 force_columns=no space_between_photos=1px icon_size=65px hide_date_likes_comments=no]
Águas Passadas