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As grandes tradições

Grandes tradições. Grandes tradições são hábitos que exigem roupa boa. Natal. Casamentos. Aniversário da tia Mirtes. Você sabe. Como lidamos ou não com as festas natalinas, define, também, quem somos – no mundo, na família. Se bêbados nos agarramos ao primo para batucar você meu amigo de fé na pianola da casa da tia, ano após ano, no churrasco de Dia dos Pais, ora, temos aí uma bela tradição.
A vida se conduz e nos conduz pelo hábito, pelo que se pode ou não esperar. Há as grandes ocasiões que se repetem e se repetem, como disse, mas essa mesma dinâmica se aplica ao miúdo, o de todo dia, o de sempre: somos desse jeito, vemos jogos de futebol comendo isso e não aquilo, bebendo essa cerveja e não aquela, fazemos desse jeito, trabalhamos dessa maneira, produzimos textos assim e assim.

Eu vejo a mesma live toda terça, reclamo do calor doze meses por ano desde que nasci, preparo aulas todo sábado, escrevo meu livro todo domingo, falo com a Tela toda noite e com a Anlene todo dia, leio por duas ou três horas antes de dormir, tomo banho assim que a última aula do dia acaba (quando tem água no Brócolis, claro) e a cada manhã, antes de começar a primeira aula, acendo uma velinha e digo sempre a mesma coisa.
Nada disso me faz uma pessoa melhor ou pior (vocês me conhecem, eu sou sempre pior). Nada disso me torna mais previsível – ainda tenho alguns truques na manga, babe. As coisas que torno ou não um hábito só fazem de mim quem sou.
Maliu e eu temos cá as nossas cousas. Não assistimos futebol juntas (ou separadas, amém), não bebemos cerveja juntas (eu que não bebo cerveja, écathi, Maliu é chegada), não frequentamos juntas churrascos de ou não de Dia dos Pais (de novo, eu, Maliu vai a qualquer celebração de qualquer coisa, criaturinha fofa e gregária que é), mas assistimos tevê juntas. Filmes (dos bacanas, tipo Tom Hanks sendo Tom Hanks, detetive, porrada, 007 and Rerispótis) e séries (de detetive ou de porrada ou dos dois).
Isso não nos torna melhores ou piores (Maliu é sempre melhor, vocês sabem). Isso faz de nós quem somos e apenas isso.
Uma nova-velha tempô de Vera começou no canal Film&Arts na semana passada. Jogando no lixo todos os nossos hábitos acerca de hora de dormir, nós nos sentaremos aqui às segunda-feiras, uma após a outra, até que a tempô acabe. Eu reclamarei do calor. Maliu será sempre melhor.

Sábado sábado sábado

Exposição imersiva. Que morte horrível.

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O calor voltou a São Paulo. Nem sei mais a quem odiar.

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Maquiável. Sério.

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Aliás, o mesmo cara do Maquiável chama Debussy de “música clássica”.

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Tou só esperando um tiozinho ridículo entrar aqui e me dizer que todo mundo me odeia. Que semana. Ainda bem que a Thaís existe.

Um feriado, dois bolos

Você vai escrever sobre Fernando, o gato que come bolo de banana. Sobre o frio, o calor. Sobre os textos atrasados, o curry que você acaba de fazer depois de dar aulas no feriado. Você vai escrever sobre como você fica feliz e aliviada por dar aulas no feriado. Você vai escrever sobre o bolo da dona Dioneia (é hoje, Brasil). Você vai escrever sobre a dor no coração de ver sua gatinha Mila Sempre Bebê ficando velhinha. Você vai escrever sobre a conversa que teve com a Telinha, sobre sua lista de quefazeres, sobre o livro do Marcelo Lins.  Você vai escrever sobre a absurda quantidade de coisas que você não sabe. Sobre a compra na Zona Cerealista. Você vai escrever (xingando) sobre essa caralha desse bando de paulista que não sabe votar. Você vai escrever sobre o cheiro do xampu, o cheiro do chá novo, o cheiro do creme sem cheiro (é um cheiro horrível), sobre o abraço do domingo, sobre a prateleira pro iglu dos gatos, sobre a imensa falta que ele lhe faz. Você vai escrever sobre escrever. Sobre concatenar palavras grandes e pequenas, sobre o medo de errar, sobre o medo de não ter ideias novas, sobre o capítulo interminável. Você vai escrever.

O céu que nos protege (ou desaba sobre nossas cabeças, who knows?)

Brilha no firmamento uma estrelinha cuja única missão é guiar os tolos para fora das brumas. Quer crer nisso como em poucas coisas na vida.

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A vida que eu deveria ter e não tive me chamou para um café. Depois de todos esses anos e depois de tanto me empurrar para longe, um café. Não beberemos café, meu querido A vida que eu deveria ter e não tive porque eu estou mais velha (meu Deus, bem mais velha) e um tantinho mais sabida. Além disso estou, paradoxalmente, mais em carninha viva e mais cascuda. Não caio em armadilha, especialmente nas que eu mesma armei, tale quale a fia da Chiquita, aquela.

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Juntei roupas e tralhas. Guardei um monte de livros nas estantes do quarto. Sim, de novo. O meu lindo projeto “Terei um quarto de mulher” ficou para a próxima encadernação.

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Tem quem procrastine arrumando gavetas. Procrastino ouvindo música boa e escrevendo num blog completamente morto. Quase meia-noite, yours truly deveria estar escrendo o conto dos pássaros de olhos ruins.

Caymmi

A cada temporada e meia me aparece uma sumidade afirmando que que não, não devemos sofrer por amor, que amar é desapegar, deixar fluir e criar o bicho solto (opa). Você, não sei, mas eu sofro por amor e quem paga o pato é a adega do meu velho e saudoso pai.

Ah, vá, sofremos, sim, por amor. Escorremos pela parede do box e choramos debaixo da água morninha. Sofremos por amor quando queremos alguém que não nos quer. Quando alguém nos quer e, por nada desse mundo, conseguimos amar de volta. Quando alguém nos quer, mas também quer outra pessoa. Quando nós queremos alguém e precisamos voltar para casa. Sofremos e sofremos e sofremos por amor de todas as formas, porque sim.

Eu estava pensando aqui: poucas vezes o sofrimento por amor é mais devastador do que aqueles minutos em que assistimos o objeto de nosso amor se vestir, sabendo que não há volta. Uma perna na calça jeans, depois a outra, cada botão da camisa dentro da casinha certa, pés definitivamente enfiados nos sapatos e você sentada no meio da cama, abraçando o edredom e fazendo o possível para não chorar. Em vez de falar sobre o tempo, a defesa do Guarani ou declamar um versículo da Bíblia, a criatura inconsciente faz o quê? Canta que só louco amou como ele amou. Sério, seu puto? É sério que você vai cantar isso enquanto sai da nossa vida? Sofrer por amor é sempre ruim, doloroso, humilhante e patético, mas esses poucos instantes que transformam o cretino nu num fariseu vestido, que dará um beijo na minha testa para, em seguida, bater a porta é, de longe, o mais doloroso dos momentos. Depois que ele saiu eu me levantei e entrei no chuveiro ouvindo o som de vidro estilhaçado sacudindo dentro do meu peito.

Ah, insensato coração. Por que me fizeste sofrer.

Na segunda-feira estaremos na metade de agosto

Textos se acumulam. Dos clientes. Os meus não mais, larguei todos. Amiga me pergunta dos textos de museu e eu me lembrei do escrito a respeito das Bodas de Caná, começado há mais de três meses. Morto, talvez. Provavelmente. Eu só queria sumir. Deixar de ser. É um cansaço sem nome.

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A semana pareceu que jamais, mas jamais mesmo, teria fim. Well, passa das oito da noite e vejo que estava certa, porque ela ainda não acabou.

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Coisas que nunca pensei que entrariam na minha lista de compras, mas a vida me obriga, parte 3149:

uma caixa grande de caixa de ferramentas para guardar a abissal quantidade de ferramentas dessa casa

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Amiga me chamou pra fazer teatro. Vamos, Fal, só tem véio no grupo, vamos montar um Nelsão, é divertido, é isso, é aquilo. Nem respondi, não sei o que dizer. Lembro dos grupos de teatro de quando eu era menina, a entrada em cada um, a emoção, a delícia, os novos amigos, os textos, apresentações nos parques. Corais, a mesma coisa, sempre a soprano mais afinada, mais feliz, mais encantada. Não canto há mais de trinta anos, não imito uma arvore há mais de quarenta.

O mundo das artes suspira aliviado.

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Reli textos velhos para produzir coisas novas. Reli as respostas de D., pois sou desse tipo estúpido, guardo tudo em montanhas de arquivos bem arrumadinhos: ele sabia. Como eu posso, sempre, ser tão burra, me achando tão esperta, um estudo de caso. D. simplesmente sabia. Quando finalmente confrontado, jurou um não, batendo pestanas, dedinhos contra o peito, o que só torna tudo pior porque é só reler o que ele escreveu. Sinto imensa vergonha de mim.

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A Globonews parece selecionar os novos jornalistas por sua capacidade em engolir saliva no meio da frase, o que nos deixa, Maliu e eu, com vontade de morrer.

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Abobrinha em conserva na lista de coisas maravilhosas que sempre queremos, parte 3.

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O Brasil me enoja, me surpreende, me diverte, me assusta. Não necessariamente nessa ordem.

Vem cá, meu bem

Repetir para Elaborar

Reclames do Drops

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Águas Passadas