Pular para o conteúdo

O passado sempre volta

– numa história muito mais linda do que a vida real, Dido foi a primeira rainha de Cartago. <3

Hoje, de maneira torpe e traiçoeira, comecei o lento processo de apresentar uma mente jovem e impressionável a Cartago. Sem que a família se dê conta, como boa professora esquerdista que sou, doutrinarei esse pobre menino até que ele aceite Anibal Barca como seu senhor e salvador, convertendo-se à verdadeira fé.
Quando a família menos esperar estará passando férias no norte da África, visitando ruínas de termas e palácios desabados e sendo também doutrinada.

***


Quando Roma botou a cara pra fora da água, Cartago já desfilava pelo Mediterrâneo anexando territórios, destruindo cidades, estabelecida numa bem engendrada e cruel e eficiente rede de influência e comércio. Cartago, herdeira da Fenícia de muitas maneiras – inclusive usando seu alfabeto, baseado no alfabeto egípcio e, mais tarde, lindamente roubado pelos romanos – era uma espécie de hub da antiguidade, reunindo, usando, modificando e transmitindo o que havia de grego, de egípcio, de hitita, de etrusco, de núbio, de persa e de todo o resto do mundo alcançável num lombo de cavalo, num barco a remo.
Roma que, crescida, queria os mesmo territórios, tesouros e brinquedos, destruiu Cartago pouco a pouco, uma batalha depois da outra, por muito tempo, comprando a consciência de generais, virando mercenários de lado, roubando e copiando – tábua por tábua – navios de guerra, roubando estratégias, espancando professores em porões até que, famintos e apavorados, eles lhes contassem segredos sobre famílias cartaginesas ricas e seus filhos e hábitos (professores fazem coisas horríveis por comida e vinho, eu digo).
Roma lutou nos campos de batalha e mares, mas também nos corredores e embaixadas e portos e zonas comerciais. Então, um dia, e é assim mesmo que se ergue um império (impérios são coisas terríveis, não se iluda), vencedora de muitas guerras, Roma entrou em Cartago, tacou fogo em tudo, matou e escravizou, pilhou e estuprou.
Cartago nunca se reergueu e Roma ainda brilharia por séculos, desfilando pelo Mediterrâneo anexando territórios, destruindo cidades, estabelecendo-se numa bem engendrada e cruel e eficiente rede de influência e comércio.
Nisso tudo, temos meu belo Aníbal, seu pai terrível e impressionante, sua família disfuncional, sedições de toda sorte e intrigas palacianas que se materializavam em corpos sem vida acumulados nas praias. Mas essa é outra história para outro dia.

O estilo de vida para mim

Querido Paulo, fui escarafunchar fotos antigas. E áudios antigos. Sim. Eu guardei todos os áudios e cada foto de cada xícara de café, parafuso, cabo de aço, lata de tinta, termômetro de rua, subida de serra. Guardei uma foto deles no mar que eu absolutamente não deveria nem ter visto. Arrancar casquinha é uma espécie muito imbecil de estilo de vida. Daí me dei um tranco. Apaguei o arquivo e deletei, não ria, 673 fotos, armazenadas de 2016 a 2022 (o ano em que ele parou de falar comigo). Apaguei até a foto que tirei dele, um foto dele que só eu tinha nesse mundo. E agora eu estou me sentindo infeliz e miserável porque não tenho mais nenhuma foto dele. Daí que acabei mais um conto de fim de mundo, querido Paulo. Tou amando escrever sobre o fim do mundo. Esse sim é o estilo de vida para mim.

pulseira

eu fico procurando algum sinal que me magoe. quando encontro, me magoo..

Ninguém mais assina o blog dele

Engraçado que eu fosse a única assinante do blog dele. Engraçado no sentido de patético para cacete, você entendeu. Uma pessoa no mundo se importava com o que ele dizia, uma pessoa no mundo tinha esperança de que ele, um dia, voltasse a escrever. Eu.

O que nos ensina mais uma vez que a gente não dá a mínima importância para quem nos quer bem ou se importa conosco. Foda-se, querida. Ele me disse isso tantas, tantas vezes.

Vezes demais.

As grandes tradições

Grandes tradições. Grandes tradições são hábitos que exigem roupa boa. Natal. Casamentos. Aniversário da tia Mirtes. Você sabe. Como lidamos ou não com as festas natalinas, define, também, quem somos – no mundo, na família. Se bêbados nos agarramos ao primo para batucar você meu amigo de fé na pianola da casa da tia, ano após ano, no churrasco de Dia dos Pais, ora, temos aí uma bela tradição.
A vida se conduz e nos conduz pelo hábito, pelo que se pode ou não esperar. Há as grandes ocasiões que se repetem e se repetem, como disse, mas essa mesma dinâmica se aplica ao miúdo, o de todo dia, o de sempre: somos desse jeito, vemos jogos de futebol comendo isso e não aquilo, bebendo essa cerveja e não aquela, fazemos desse jeito, trabalhamos dessa maneira, produzimos textos assim e assim.

Eu vejo a mesma live toda terça, reclamo do calor doze meses por ano desde que nasci, preparo aulas todo sábado, escrevo meu livro todo domingo, falo com a Tela toda noite e com a Anlene todo dia, leio por duas ou três horas antes de dormir, tomo banho assim que a última aula do dia acaba (quando tem água no Brócolis, claro) e a cada manhã, antes de começar a primeira aula, acendo uma velinha e digo sempre a mesma coisa.
Nada disso me faz uma pessoa melhor ou pior (vocês me conhecem, eu sou sempre pior). Nada disso me torna mais previsível – ainda tenho alguns truques na manga, babe. As coisas que torno ou não um hábito só fazem de mim quem sou.
Maliu e eu temos cá as nossas cousas. Não assistimos futebol juntas (ou separadas, amém), não bebemos cerveja juntas (eu que não bebo cerveja, écathi, Maliu é chegada), não frequentamos juntas churrascos de ou não de Dia dos Pais (de novo, eu, Maliu vai a qualquer celebração de qualquer coisa, criaturinha fofa e gregária que é), mas assistimos tevê juntas. Filmes (dos bacanas, tipo Tom Hanks sendo Tom Hanks, detetive, porrada, 007 and Rerispótis) e séries (de detetive ou de porrada ou dos dois).
Isso não nos torna melhores ou piores (Maliu é sempre melhor, vocês sabem). Isso faz de nós quem somos e apenas isso.
Uma nova-velha tempô de Vera começou no canal Film&Arts na semana passada. Jogando no lixo todos os nossos hábitos acerca de hora de dormir, nós nos sentaremos aqui às segunda-feiras, uma após a outra, até que a tempô acabe. Eu reclamarei do calor. Maliu será sempre melhor.

Vem cá, meu bem

Repetir para Elaborar

Reclames do Drops

Rádio Drops

Piu Piu

[fts_twitter twitter_name=dropseditora tweets_count=2 cover_photo=no stats_bar=no show_retweets=no show_replies=no]

Instagram

[fts_instagram instagram_id=17841405821675374 access_token=IGQVJYOEVGYllBNkJDd3NXWFJMYW9YRllGN0FfaDdadjVvNnVIWWVrMkdLMnBrT1UySXVDVTVWZA01tQmlYbkszRTBnTUo1eTFhUHR3RFFfa3ZAVa3BQY05SeTZAma1JfbFpQZADZAaVEpB pics_count=2 type=basic super_gallery=yes columns=2 force_columns=no space_between_photos=1px icon_size=65px hide_date_likes_comments=no]
Águas Passadas