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Um pequeno universo

Torturei duas criaturas amadas com Bare infinitive e fiz uma companheira de escrita criativa chorar.

Essa semana eu me comportei pior do que de hábito.

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Quase todo dia, por dever de ofício, mando alguém encontrar o caderno perfeito para ser o veículo de suas palavras, ideias, definições. Depois de uns vinte anos nessa faina, achei o meu caderno perfeito. Encadernação linda, as páginas dum creme inacreditável, um cheiro delicioso, perfeito, perfeito.

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Uma semana é um pequeno universo. Uns dias são bons, outro são assustadores, respostas não chegam, conversas não acontecem e nem adianta esperar. Banho, faxina, sanduba, mouse novo, caneta sem tampa, gato fazendo manha, celular que não carrega, férias que não terei, touquinha linda, queijo ralado, conselhos idiotas, fotos bonitas, músicas em espanhol. A semana não tem fim, mas tenho vários.

A noção

Hoje uma aluna danada de esperta falou e falou sobre arte e os usos da arte e para que ela serve e eu fiquei ali, pensando num montão de épocas e papas e suportes e mecenas e escolas e movimentos enquanto ouvia, sem chegar a qualquer tipo de conclusão. Foi tão bom ficar quietinha, ouvindo.

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Hoje o dia foi curto demais pro tanto de coisas que precisavam ser lidas e anotadas. Você também passa por isso? Tento ser zen e calma e me espremer na vibe “nada é pra já”, mas acontece que fico patinhando, cada vez mais ofegante, perturbada com o mundo de quefazeres não feitos me que cercam. Hoje, sempre, tenho terminado meus dias assim.

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Hoje eu me comportei feito uma idiota, fui tratada como uma idiota, na base do comentário tonto e não da reciprocidade, e meus dedos dos pés ainda estão encolhidos. Foi bem-feito, né, que eu me animo e perco demais a noção.

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Hoje, hoje, hoje.

Hoje

.

Não me lembro quando foi que me dei conta.
Do fim, digo.

Quando me dei conta de que havia, enfim, terminado?
Um mês depois? Um ano?

Em que momento, exatamente, realizei com olhos, mãos, cérebro, língua que não haveria volta?

Com uma pá

Celular tendo chilique. Uma constante em minha vida. Hoje foi dia de desistalar e reinstalar de um tudo nessa infernal plaquinha de argila high-mais-ou-menos-tech.

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Hoje chegaram dois Paulo Mendes Campos de um sebo. Vieram autografados. Lagriminhas. Não vieram autografados para mim, mas que diabos. É a letra do velho.

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Também hoje, planos de trabalho com o Paulo C. A gente devia ser interditado. A Suzi e a Ana deviam bater na nossa cabeça com uma pá.

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Falei com o Pedrão ontem e rimos juntos, a mesma risada. Minha mãe produziu risonhos-em-série.

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É um frio que quase, como quase tudo nessa vida. A mamãe me fez lembrar que tivemos uma professora de música chamada Dona Arlete. Para além doutras qualidades, Dona Arlete vivia para repetir “Postura, postura, postura”. Agora que sou tão idosa quanto ela foi um dia, quero acreditar que Dona Arlete não estava falando apenas das costas da meninazinha ao piano.

Meias ridículas

Às vezes é ouvir o outro que abre as portas da nossa percepção e não olhar para dentro. E antes de ser acusada de produzir autoajuda ruim (como se boa houvesse), quero me defender contando que acaba de acontecer comigo. O dia foi todo assim, cheio de coisiquitas, recados, sustinhos, clichês. E um delicioso frio cinzento. Sim, estou usando meias ridículas.

Quando

Liguei pro meu ex-cunhado, policial civil.

– Marcão, Tânia, como vai?

– Tânia, porra! Tudo bom, caralho?!

Nem preciso dizer que adoro o Marcão.

– Tudo bom, querido, e você?

– Tou bom, porra.

– Aposentou?

– Não, merda, falta tempo pra caralho. E você ainda faz lá aquelas coisas?

Ninguém sabe com o que eu trabalho. Bom, nem eu.

– Faço, Marcão, tudo igual.

– Porra, que do caralho. O que você manda?

– Marcão, assim. Pensa comigo, assim ó, vamos supor que alguém entre num apartamento e ache um cadáver.

– MEU CARALHO CONSAGRADO, VOCÊ ACHOU UM DEFUNTO, MANO?

– Marcão, toou falando vamos supor. Vamos supor que alguém entre num apartamento fechado e encontre um cadáver muito antigo e…

– MANO, EM QUE MERDA VOCÊ SE METEU, VOCÊ ACHOU UM PODRÃO?

– Marcão, se concentra. Se, ao entrar num apartamento trancado há mais de setenta anos, a pessoa encontrar um cadáver, você acha que tudo bem se ela fingir que não viu e…

– CARALHO, TÂNIA, MANO, CHAMA A POLÍCIA NA HORA, PUTA QUE ME PARIU, MANO. DESSA VEZ VOCÊ FOI LONGE DEMAIS! VOCÊ ACHOU UMA MERDA DUM DEFUNTO ONDE, CARALHO?

É claro que eu contei tudo.

É claro que o Marcão deu um ataque.

É claro que ele me disse pra não devolver a chave do cara que me contratou porque tínhamos de voltar lá.

, você sabe, é o apartamento onde fica o podrão. O cadáver, quero dizer.

No celular: La Mer, com Tatiana Eva-Marie & Avalon Jazz Band

Vem cá, meu bem

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Águas Passadas