Pedra bruta: Nesse feriado nacional, os sinais estão mais do que presentes
por Andréa Pontes
é hora de muitas mãos unidas – Fonte: spbancarios
Escrever a coluna, hoje, 20 de novembro de 2024, é no mínimo intenso. É repetitivo dizer que o Brasil não é para amadores? Não. Porque, até nós, que vivemos diariamente esse noticiário de 0 a 100 em um segundo, muitas vezes não acreditamos na realidade.
Os sinais estão em todos os lugares. Os fatos estão aí. Em ordem, comecemos pelo que sempre fica, infelizmente, para o final. Educação. Ainda ontem, a triste notícia de que em quatro anos foram perdidos mais de 7 milhões de leitores, era um dos destaques. Isso não vem do nada. São muitos anos de exclusão: alimentar, de saúde, de educação.
Pensemos nesses excluídos. Sem saneamento básico, sem um banheiro para chamar de seu, sem água potável. Poucos recursos para estudar. Ruas de terra, nenhum dinheiro para fraldas ou absorventes. O mínimo no prato de comida. Então, aparecem interlocutores, muitas vezes com boas intenções, inicialmente. E muitos ainda estão do lado certo. Mãos são estendidas, o horizonte de um futuro melhor. Um caminho de fé. No entanto, um grupo se encanta com tanta gente. E isso atrai outros interesses. Votos. Poder. Influência.
Para esse pai ou mãe de família, com poucas oportunidades, uma palavra de apoio é ouro. E, assim, estabelece-se uma relação de confiança. “Alguém olhou para mim, afinal”. No entanto, são muitos os interesses, os grupos, política, segurança pública, tudo misturado. Milícias não nasceram do nada. Tráfico muito menos. Contravenção, idem. Essas bolhas de centenas de milhares de pessoas vão aumentando, até que explodem na cara de quem está na cobertura do prédio. E causa espanto. Estranhamente. Porque os sinais sempre estiveram ali para dizer para onde o fluxo estava indo.
Então, quem era esquecido até ontem, agarra-se nessa relação de confiança. Nunca viu diálogo e, naturalmente, protege-se no lado extremista. E, ainda há quem fique estarrecido ao ver um homem, em plena Praça dos Três Poderes, em Brasília, soltar bomba, dando fim à própria vida em pleno 19 de novembro — Dia da Bandeira. Não há surpresas. Os sinais…
Esses extremos têm nome no poder e sobrenome na extrema pobreza. Há interesses. E quando pensamos em fundo do poço, somos apresentados ao subsolo. Uma nova tentativa de golpe. Uma reedição de 1964. Vale lembrar que 1964 também não veio do nada. Com a renúncia de Jânio Quadros, militares não queriam a posse de João Goulart. Assim como houve interesses em não querer Juscelino Kubitschek, com a derrota de Getúlio Vargas.
Os sinais sempre estiveram no lugar. Hoje, Dia da Consciência Negra, dia de falar de todos os sinais possíveis de exclusão racial, da escravidão que deixou a população negra à margem social, a excelente entrevista de Macaé Evaristo, Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil. Ela disse que “quando eu defendo a democracia, eu defendo os direitos humanos”. A democracia, para Macaé e também para nós, é algo vital, de direito à educação, de liberdade de expressão. “Onde cresce autoritarismo, cresce violência contra a mulher, contra crianças e adolescentes; a situação de guerra faz a gente banalizar a vida”.
Defender a democracia, nesse dia 20 de novembro, é questão de vida, de unir formas diferentes de pensar em torno do diálogo.
Estejamos atentos. E, sobretudo, fortes.
Pedra Bruta: A PEC e como lidamos com o tempo
por Andréa Pontes
Chaplin e a personagem Carlitos em “Tempos Modernos”
PEC é a sigla de Proposta de Emenda Constitucional. Há uma PEC que está dando o que falar, essa semana. Trata-se de uma proposta para reduzir para 36 horas de trabalho por semana, no Brasil. Na Constituição, são previstas 44 horas. E, na média, segundo a Organização Internacional do Trabalho, nós, brasileiros, trabalhamos aproximadamente 39 horas semanais. Esse número é inferior comparado aos países em desenvolvimento, mas acima, quando comparado a países a exemplo da França, Reino Unido, Itália, por exemplo. Na China e na Índia, a média é de mais de 46 horas por semana.
Política e economicamente falando, há muitos interesses, dos mais diversos setores. Há, ainda, o embate Governo, oposição, polarizações. Muito pano para manga. Mas, o que nos faz refletir é o tempo. Após uma pandemia de Covid-19, do que temos feito com o planeta e uns com os outros, vale pensar. O que temos feito do tempo que nos resta aqui? A Revolução Industrial trouxe comportamentos na educação e no trabalho, salas, ficar sentado, ficar diante de máquinas por oito horas seguidas. Assim, Chaplin retratou em Tempos Modernos um homem do povo que precisa rosquear parafusos, que tenta, até mesmo, se alimentar com a ajuda de uma máquina sem parar de trabalhar, sem parar de produzir.
Domenico di Masi defende a criatividade incentivada pelo ócio. O dolce far niente. Não por acaso temos ideias quando estamos relaxados, distraídos. O ócio faz parte do trabalho. Não à toa dormimos com um texto e, na manhã seguinte, a gente o deixa melhor. Também não é do nada que a Organização Mundial de Saúde tem falado dos impactos da falta de saúde mental. Muitas informações, toneladas de dados, uma sociedade ágil e produtiva.
Portanto, vale e muito analisarmos as notícias da PEC 6 x 1, como vem sendo chamada, por vários ângulos. Os interesses e públicos envolvidos, as tendências pelo mundo. Mas, o que considero mais importante é o que pensamos sobre o tempo e a vida, a vida e o tempo, o que compõe a nossa vida diária.
É preciso tentar (e conseguir) viver além das manchetes.
Pedra Bruta: Feliz 2025
por Andréa Pontes
Yufi de olho em 2025
Não, não é desabafo. Já passei da idade para acreditar que uma vida se encerra em um ano e começa outra vida no seguinte. Nos 50+, a gente já sabe que janeiro é o mês da culpa do cartão de crédito, do IPTU, do IPVA, do material escolar…
O fato é que as famosas tendências já povoam o nosso noticiário. E, de fato, é importante a gente estar antenada. Não só no último trimestre. Sempre, aliás. Estar no presente é o segredo que economiza as sessões de terapia. Mas, vai você exercitar estar presente o tempo todo, 24 horas? Difícil. Mas, é importante. A ansiedade está aí, entre os trend topics das doenças mentais, mostrando no que dá ficar preocupado com o amanhã o tempo todo.
Se eu hoje fosse dizer uma palavra para quem quer sobreviver futuramente, diria: “humanidade”. Não só porque a Fernanda Montenegro e aquela criança inteligentíssima repetiram em um anúncio. Mas, porque, o que vem por aí precisa muito de nós. Seres humanos.
Inteligência Artificial. Questões Climáticas (se 2024 vai ser o ano mais quente, imaginem os próximos). Riscos. Guerras. Polarização. E uma vida diante de telas, que nos deixam agitados, ansiosos, atormentados com Zé Love sendo eliminado de A Fazenda e, ao mesmo tempo, com crianças não podendo repetir o prato nas escolas públicas de São Paulo.
Está faltando a gente.
Para lidar com um mundo de robôs; de botões e QR Code; de uma identidade que está em nuvens tecnológicas, precisamos ser mais humanos. Olhos nos olhos, longe das telas, gente, gentilezas, conversas.
Não se distraia com as Ceias de Natal e de Ano Novo. Melhor, distraia-se, treine a humanidade.
Anda em falta.
O efeito Trump
por Andréa Pontes
Tio Sam quer nos dizer que quer o sonho americano de volta. Já se o caminho é seguro…
Donald Trump é eleito novamente. Será o presidente dos Estados Unidos por mais quatro anos. O que vimos, nas últimas semanas, foram as principais emissoras brasileiras enviando correspondentes, horas com analistas políticos das eleições norte-americanas.
Mas, por qual motivo?
Vários. Primeiro, o que venta na América do Norte, venta por aqui. O dólar ainda é a moeda utilizada por referência no mundo. E já amanheceu na casa dos R$ 6. Os impactos dos juros do Banco Central dos Estados Unidos (Fed) trazem desdobramentos para o mundo. Se os juros estão altos em solo estadunidense, vem a insegurança da economia, dos investidores, sobram menos investimentos, há mais cautela. Não é por acaso que na última reunião dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia e África do Sul – foi defendido falar de negócios de forma não tão dependente da moeda norte-americana.
A eleição de Donald Trump revela o fortalecimento da extrema-direita. Que não é de hoje. E é essencial entender como isso funciona. Repetições, o chamado ‘frame’, que estudiosas como Letícia Sallorenzo explicam muito bem, sob a luz do linguista George Lakoff. Trump utilizou o verbo ‘ocupar’ para reforçar que os EUA estavam ocupados por imigrantes. E repetiu diversas vezes. Também foi adepto de várias mentiras. Notícias falsas sobre gente comendo carne de cachorro e gato em Springfield viralizou em forma de letra e música. Chegou a publicar foto da galática cantora Taylor Swift o apoiando, quando, na realidade, ela apoiava sua oponente, Kamala Harris. E, reforçou, tocando no emocional da população norte-americana “Make America great again”. Uma alusão a reconquistar o sonho americano, tão propagado mundo afora. A comunicação foi exatamente em cima das frustrações dos norte-americanos. Além disso, forte parceria com redes sociais, principalmente com Elon Musk e a rede social X.
O que nós, brasileiros, temos com isso? Muitas coisas. Primeiro, a conferir o que vem por aí. De acordo com as promessas de Trump, menos juros para os mais ricos, mais combustível fóssil, menos imigrantes. Muito provavelmente, ano que vem, no Pará, durante a Cop-30, não teremos uma participação dos EUA, muito menos conciliatória com indicadores para preservar o meio ambiente.
E, não menos importante: o impacto na extrema-direita no Brasil. Em 2020, Trump perdeu as eleições, houve invasão ao Capitólio. Em 2022, Jair Bolsonaro perdeu as eleições e houve o ‘8 de janeiro’. Não há meras coincidências.
O que podemos fazer é prestar atenção. Saber e entender as notícias. Para não sermos levados pelo emocional, tampouco pelas fake News.
A conferir o que o empresário e político Trump vai mostrar nesses próximos meses.