Deixei o grão-de-bico de molho desde ontem

Deixei o grão-de-bico de milho desde ontem. Acho que troquei a água três ou quatro vezes e, a cada vez, botei um tanto de vinagre, assim, de olho. Hoje coloquei a panela de pressão para funcionar – apesar de panela de pressão ser completamente contra minha religião, e quando o grão-de-bico tava macio, deixei esfriar e daí botei na geladeira e fui dar aula.
Agora de noite, o grão-de-bico já friozão (a minha geladeira é uma ignorância), tirei a tigela de lá prele acalmar. Cortei a cebola em rodelas e depois das rodelas em meias-luas e depois as meias-luas em quarto-de-luas. Uma vez eu namorei um cozinheiro e ele tinha horror ao meu padrão de corte. Se você reparar bem, sempre me apaixono por homens que sentem vergonha de mim. Freud me ama, eu sei.
Bom, entreguei as cebolas ao grão de bico e, então, temperei e juntei um filé de frango e jantei calmamente enquanto os irmãos Winchester salvavam o mundo de terríveis lobisomens. Apaguei a casa, acendi uma velinha no móvel que fica junto do retângulo em pé que é a minha janela e fiquei deitada de lado vendo aquele foguinho se sacudir. Não me lembro de pegar no sono, mas acordei quando a madrugada já estava cor-de-rosa. A velinha tinha se consumido, mas o quarto ainda cheirava à laranja.