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Deixei o grão-de-bico de molho desde ontem

Deixei o grão-de-bico de milho desde ontem. Acho que troquei a água três ou quatro vezes e, a cada vez, botei um tanto de vinagre, assim, de olho. Hoje coloquei a panela de pressão para funcionar – apesar de panela de pressão ser completamente contra minha religião, e quando o grão-de-bico tava macio, deixei esfriar e daí botei na geladeira e fui dar aula.

Agora de noite, o grão-de-bico já friozão (a minha geladeira é uma ignorância), tirei a tigela de lá prele acalmar. Cortei a cebola em rodelas e depois das rodelas em meias-luas e depois as meias-luas em quarto-de-luas. Uma vez eu namorei um cozinheiro e ele tinha horror ao meu padrão de corte. Se você reparar bem, sempre me apaixono por homens que sentem vergonha de mim. Freud me ama, eu sei.

Bom, entreguei as cebolas ao grão de bico e, então, temperei e juntei um filé de frango e jantei calmamente enquanto os irmãos Winchester salvavam o mundo de terríveis lobisomens. Apaguei a casa, acendi uma velinha no móvel que fica junto do retângulo em pé que é a minha janela e fiquei deitada de lado vendo aquele foguinho se sacudir. Não me lembro de pegar no sono, mas acordei quando a madrugada já estava cor-de-rosa. A velinha tinha se consumido, mas o quarto ainda cheirava à laranja.

Meu amigo comprou um negócio pra casa dele

Meu amigo comprou um negócio pra casa dele e mandou entregar aqui.

De modos que, depois duma aula divertida (minhas quintas-feiras têm um povo divertido demais), enquanto esperava a entrega, piquei meio quilo de cebola o mais petitico que pude.

Entreguei as cebolículas a uma colher de manteiga derretida na frigideirona pelando, fogo baixo. Lembro de quando Alexandre comprou essa frigideirona. Ela tem um nome especial, não sei mais qual. Estávamos na Liberdade com a Telinha e a Carina. Era um dia de festival, ruas lotadas, papeizinhos coloridos pendurados pra todo lado e agora me pergunto quantas e quantas vidas uma pessoa pode viver. Quantas, quantas. Enfim, vinte anos depois da morte dele, eis aqui a frigideira do Alexandre, em muito melhor forma do que eu, resistindo ao fogo, à manteiga borbulhentinha, à cebola que derrete.

Piquei dois maços de cebolinha, taquei lá também.

Na tevê, o Octávio Guedes faz um paralelo entre alguma coisa que o Lacerda fez um dia e alguma coisa que o governo ou alguém do governo tá fazendo agora, não sei bem, não tava prestando muita atenção e não entendo de Lacerda. Só gosto de ouvir o Octávio, a voz dele tão carioca, as piadas, a cara de quem sabe alguma coisa que eu não sei (no caso dele, várias e várias coisas).

Tenho textos para mandar pro Paulo, devo textos pra Suzi e pra Pri, tenho muitas aulas pra preparar, mas tou aqui com a cebola que se transforma, planejando um curry maravilhoso e tão apimentado que fará minha língua latejar e meu nariz arder.

De carreirinha

Foto da Ward dando remédio prum ganso sinaleiro, a minha hora de dormir que passou faz muito tempo, brincos de porcelana, as incríveis traduções da Isabella, uma pilha de desejos, a nova ordem mundial das canetinhas de pintar Berenice, caixas de acrílico, uma gatinha chamada Mila, um buquê de parênteses para a R. Lins ( ( ( ( ( (  ) ) ) ) ) ) ), Nepomuceno escrevendo textos lindos a respeito do esquecimento e me mandando figuritas de my very own Omar, pastéis de ricota, declarações idiotas, uma cor chamada maravilha, um pijama xadrez (que, há anos, quando comprei, falei pra Tela “compra pro Fred, ele vai gostar!” e quando fui contar isso pra mã chorei um pouco), a burocracia irreal deste país imbecil me deixando completamente aturdida, chá de um pacotinho vermelho (melhor coisa na vida), sabonete com cheiro de limão, saudades (meu bem, saudades), mostrar A caverna do Dragão para a Anlene, filme velho do Toniranquis me dizendo que nada poderá nos salvar (como se eu não soubesse, babe), plantas quase mortas, livros, livros, livros, a lenta leitura de Pelágio com o professor Venturini, uma camisa amarela, fotos do escritório do Ubaldo, vontade de andar de táxi, brócolis no jantar, catiorro-margaridinha pedindo colo, uma tomada de fôlego, as cousas  malucas que digo em voz alta, um texto muito sofrido (e que jamais verá a luz do sol) para a onipresente Nepomuceno, banho frio porque quando acaba a água da rua é o que nos resta, Heitor me desejando bom dia, manteiga de amendoim, vela de cheiro bom, objetivos alcançados, ilusões (hahaha) perdidas, a imensa falta que meu amigo me faz.

Num velho filme, Toniranquis pergunta “Como cheguei aqui?”

Ah, querido, excelente pergunta.

Duas amigas me falaram a respeito de solidão. Uma delas perdeu a melhor, melhor, melhor amiga. A outra, indo sozinha para o hospital, se deu conta de que estava indo sozinha para o hospital.

*

O Aulete, aquele pândego, define pertença dum monte de jeitos, inclusive assim: “Qualquer coisa que, por determinação judicial ou destinação natural, liga-se ao uso de outra como acessório ou complemento”.

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Quem, nesta vida, quer ser acessório ou complemento, Aulete?

Estivesse aqui no apart-hotel do conde Drácula, o velho responderia:

“Minha querida, dependendo de acessório do que e complemento de quem, geral”.

O velho professor Caldas Aulete não está mais entre nós desde 1878, mas continua um gênio.                                               

E usa gírias cariocas, vejam vocês.

Rolê

Vermelho. Escritório. Média. Roupa. Lavanda. Programa. Cartão. Maio. Milagre. Efeitos. Cereja. Silêncio. Porcentagem. Casa. Medo. Esconderijo. Resultado. Pedra. Descoberta. Lousa. Girafa. Sugestão. Fuga, Crise. Cultura. Vodca. Modo. Fôlego. Prefeitura. Infecção. Campo Belo. Mínimo. Semana. Vaticano. Espera. Azulejo. Dose. Golpe. Mantiqueira. Graciliano. Pó. Oliva.

Telhado

“Resposta proporcional” muda totalmente de sentido quando tudo o que você quer é passar o dia todo trocando mensagens idiotas e rindo dum jeito esquisito.

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Algumas páginas são coloridas. Algumas não são.

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Minha detetive favorita no mundo todo é a Vera- Brenda Blethyn. Gosto mais dela do que do Poirot-David Suchet. Ela acaba o lanche dela e come o lanche do assistente.

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O regador novo chegou. Dez litros gorduchos dum plástico cinzento.

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Ele fez planos. Mas meteu os pés pelas mãos, estragou tudo e sequer me cogitou como um terrível e humilhante plano B – pelo que eu deveria ser grata, mas não sou.

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Eu moraria num telhado com você.

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Só devemos perguntar ao estranho quem ele é depois de aquecê-lo e alimentá-lo.

*

Comprei dois maços de espinafre. Paguei em dinheiro, porque perdi o cartão. Sim, de novo.

Vem cá, meu bem

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Águas Passadas