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é a lama, é a lama

Deve haver um método de tortura patenteado por algum gênio do crime que consiste em perguntar às mulheres solteiras “Então você resolveu não se casar?”. Quando a gente é viúva ou divorciada (eu gosto mesmo é de “desquitada”, acho o fino), a pergunta é “Então você resolveu não se casar depois do divórcio/ depois que o A. morreu?”.

Olha.

Sinceramente.

É pra gente responder o quê?

Então, resolvi passar o resto dos meus dias sozinha, os homens são todos uns escrotos.

ou

Então, não foi que eu resolvi, não, é que depois que o Alexandre morreu ninguém me quis, então estou condenada à esta miserável solidão.

Sério. O que eu mais vejo é mulher respondendo Pois é, não aconteceu…

Mas a gente devia mesmo era responder vai se foder, seu escroto, a minha vida não te interessa.

Depois eu me pergunto porque ninguém gosta de mim.

(posso ouvir a voz da minha mãe dentro da minha cabeça dizendo “Bi, deixa de ser mal-humorada, a pessoa só estava puxando assunto”. Mas, vem cá, quer puxar assunto, fala do tempo. Puxar assunto é “que chuva, hein, menina”. Olha. Morram.)

*

Uma escritora profissioal deveria ser melhor pesquisadora, sinceramente.

*

Quando chove, penso em você. Acho que alguma bruma de fantasia doméstica me toma, alguma coisa maluca que envolve canecas de chá, almofadas macias e pés vestidos em meias coloridas encostados uns nos outros na mesinha de centro. Tem medicação pra isso que me acomete, mas a dose ainda é um mistério.

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Realmente não me envergonho em dizer que estou no terceiro episódio de The witcher e não estou entendo coisa alguma. Nada. tá um corre-corre e é princesa maluca pra cá, feiticeira revoltada pra lá, tem um tiozão de peruquinha branca, uns véio malvado, a Dolores Umbridge lá fazendo eu não sei quê, olha, tou até cansada. Várias moças peladas.

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No mundo ideal (o meu, o das pessoas irascíveis, antipáticas e solitárias), eu faria caixas e caixas de canecas NINGUÉM SE IMPORTA, SEU BABACA, que seriam amplamente distribuídas.

Porém

Aqui.

*

Amiga minha, Jane, colocou em palavras o que eu (mais uma vez) não soube como: esse sonho campesino nosso, a casinha afastada numa praia selvagem, no meio do mato, esse sonhinho nosso é europeu. Essa vida é impraticável no Brasil. Você seria degolado na primeira semana vivendo aí. É preciso ter instalada imensa paz social, divisão mais-ou-menos correta de grana, empregos, justiça social mínima, para que você possa morar aí em paz. O que nos resta são os odiosos condomínios de casas, rurais ou não. Jamais. Ninguém me pega morando novamente em um prédio de apartamentos e muito menos num condomínio de casas que, na minha opinião, junta o pior duma casa com o mais terrível dum apartamento. Fico no meu sobradinho no Brooklin. Teretetê a calha dá chabu, eu mesma tenho de botar o lixo na rua, sobe escada-desce escada, mas JAMAIS reunião de condomínio, JAMAIS vizinhos resmungando por conta de gatos/furadeira, JAMAIS elevador.

(saudades do nosso apê na Afonso Celso, porém. Era um quarto andar sem elevador, velhinhos em quase todos os apartamentos, corredores despencando de charme. Fomos tão felizes ali.)

O tipo de apocalipse que teremos, pensei bem pouquinho em você, um Instagram que ninguém liga, buzina de motoca, pamonha, pamonha, pamonha, pamonha de Piracicaba (ou é de Sorocaba que vêm as pamonhas?)

Quase não pensei em você nos últimos dia, a não ser quando estava falando com você ou nalgum intervalo, ou quando fiz molho de tomate do zero e pensei que você gostaria do meu molho. Então me dei duas estrelinhas. Certo, eu deveria estar pensando zero em você. E também não deveria falar com você. Ou manter o seu número no meu gerenciador. Ou me preocupar com o que você acha de mim. Mas eu sou essa pessoa fraca. E pensei menos em você nos últimos dias. Então me dei duas estrelinhas douradas.

*

Filme de apocalipse que os vilões são os robôs e não os zumbis. É bom dar uma variada no tipo de apocalipse.

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Tem o insta lá do Drops. Que tá lá, sigo quem me segue, posto capas de livros e tal. Trabalho. E tinha o insta meu. Que eu alterei pra ser um insta de poucos. Eliminei mais de dois mil seguidores. Fechei. Mudei nome. Tirei linque de blog. De tudo. É meu insta de pouquinhos. Sigo montanhas de contas de decoração, cães e pássaros e não deixo ninguém mais me seguir de volta. Os amigos que ainda estão lá são cada vez menos. “Amigos”. Engraçado demais como a gente é condicionado a chamar qualquer um de amigo. Bem, ainda tem muita gente. Meu ideal seria ficar com uns cinquenta contatos, seguindo e sendo seguida. Ainda tem gente demais, casa bonita, cão e pássaro de menos.

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A filha de C. me deu as estantinhas da adega dele, as que eram de madeira e podiam ser carregadas, claro, não as de pedra escavadas nas paredes do porão. E me deu um monte de garrafas de vinho. Um monte. Arrumei na sala nova. Hahaha, tou chamando a nossa velha sala de “sala nova”, tentando dar um truque no meu cérebro. Tá funcionando mais ou menos. Arrumei as estantes e os vinhos que já tinha embaixo da escada. Não ficou lindo, mas ficou em ordem. Tem que ter uma gradinha, porque os gatos são pessoas horríveis e xixizentas. Deus me livre.

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As buzinas de motoca aqui no Brócolis são horríveis. Alguma coisa nesse barulho faz minha coluna doer. Descobri que o Tesla também tinha isso. Agora só falta eu ficar genial e seremos irmãos gêmeos.

(sem brincadeira, é aflitivo ler como a maluquice minha se parece com a dele)

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Mudei de xampu. Tente não invejar demais a minha vida emocionante.

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De quando em vez aparecem uns idiotas? Sim, por Baco. Sim. Sim. Sim. Meu Deus, a vontade que eu tenho é perguntar “Oi, flores, vocês poderiam morrer? Grata.”

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Eu queria que alguém me dissesse “Por favor, passageiros para 2023, dirijam-se ao portão 8. O embarque ocorrerá em quinze minutos”. Mas ainda é 7 de janeiro, meu bem, como acaba de me lembrar a Krysse.

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Na minha cabeça, chamo você de meu bem.

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Arrumar a casa tem um efeito calmante sobre mim. Estou quase doce, quase querida. (Sei que desejei a morte das imbecis ali em cima, mas né, merecem demais).

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Tou com muita saudade de comer pamonha. O moço do carro da pamonha sumiu do meu bairro.

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Ouvi uma amiga perguntando pra outra se ela não conseguiria “pegar um fim de semana sozinha e ir pra um hotel desses com massagens e ioga” e quase chorei. Talvez, um dia, eu mereça a mesma gentileza. Alguém me perguntando “Fal…”, ou me oferecendo o sofá “Vem, Fal, pelo menos você muda o cenário e…”. Claro que não irei a lugar algum, mas posso sonhar.

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Minha fuga secreta: tenho todos os alarmes das companhias aéreas sobre mudança de preço de passagem para Buenos Aires. E sigo um milhão de B&B em Buenos Aires, de pequenas pensões e hostais. Um dia. Um dia. Não por uma semana, não por dez dias. Por séculos e séculos, por eras. Uma amiga, excelente escritora, diz que na próxima a gente renasce em NY. Eu, de minha parte, gostaria mesmo era de estar em BA. E em silêncio. Solita. Buenos Aires e eu nos reencontraremos e, já que BA com você simplesmente não existirá, irei só. Estarei só. E cada rua será minha, então.

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A S. caiu da cama. Eu me lembro dessa fase da viuvez. Sim, a gente cai da cama quando o marido da gente morre. Outra coisa que ninguém nos conta. A gente cai da cama muitas, muitas vezes. Muitas. Se eu já dormisse na cama altíssima que durmo agora, teria morrido em 2008, sério mesmo.

Uma amiga me disse que a viuvez também tem a fase xixi na cama. Essa eu não atravessei, mas acho que foi porque fiz xixi na cama até os 13 anos. Daí a natureza resolveu me poupar. Pode ser isso.

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Contei que tenho pensado pouco em você? êêêêêê.

O chester não tem fim, felicidade, sim

Meio bêbada, muito triste, muito só, meio assustada. Queria tirar uma foto bem charmosa da minha linda taça pra você ver e pensar Nossa, que coisa mais linda, se eu vivesse com essa mulher meus dias seriam assim banhados em beleza (não a minha – eu não tenho – mas as das coisas, da luz, das maneira incrível como eu disponho a vida), em ordem, em bebidas rosadas e doçuras sem fim, mas você não me lê em absolutamente lugar nenhum, eu mal existo (e sei que já disse isso e sei que estou usando muitas aspas, o que deixa a S. com dó da minha falta de categoria literária) e de mais a mais, não posso tirar foto alguma daqui porque meu entorno está uma zona federal. Só posso me lamentar e fazer frases longas e hediondas. A tradução vai bem, a arrumação da casa vai mais ou menos, a guardação de dinheiro vai péssima, a organização da vida vai pavorosa. Escrevi dois poemas choraminguentos de Saturno para você, um horror sem fim, mendicância, falta de dignidade, já vimos esse filme. O fato de você não me dar a mínima e de nunca ter querido ser meu amigo de verdade não me adianta. Continuo querendo o que quero, continua tudo igual. Quase igual. Espero as suas notícias terríveis a qualquer momento para, então, ah, então. Até lá, nem sei. Comi chester (vou comer chester até 2076), comecei a arrumar os livros de moda, botei metade da casa no lixo. Arrumei uma aluna nova para as sete da manhã das sextas-feiras, perdi a aluna das 16h do mesmo dia e comi biscoitos e cuscuz hoje. Hoje, hoje, hoje. Estou completamente bêbada.

Vem cá, meu bem

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Águas Passadas