Pular para o conteúdo

Pedra bruta: Vez em quando, é permitido sonhar

por Andréa Pontes

Céline mulherão, da Torre Eiffel, em uma noite chuvosa em Paris – yes, she can (foto Associated Press)

Paris é uma festa. 

Diversidade, respeito a crenças, raças, gênero. Três momentos marcantes. Um cavalo prateado cavalgando em pleno Rio Sena – nos levou a uma Idade Média digital, tornando História e atualidade um só personagem. O segundo, sem dúvida, Sofiane Pamart, no piano, e a cantora Juliette Armanet e a imortal Imagine, de John Lennon. Pelo menos, por uns três minutos, fez a maioria acreditarmos que, sim, é possível viver em um mundo de paz – na mesma cerimônia, os atletas da Palestina foram ovacionados.  Imagine, sem trocadilhos, treinar em um território em guerra. O terceiro, os argelinos jogando rosas no Sena, em respeito aos mortos no massacre de 1961. Quando argelinos protestaram contra o toque de recolher imposto a eles pelos franceses.

Mais nada? Mentira. O grande destaque foi Céline Dion. Lutando contra uma doença degenerativa fez uma apresentação histórica, cantando Edith Piaf, em L’Hymne à l’amour”.  Um hino, sim, ao amor e um soco no estômago em nossas procrastinações, nossos medos. Ganhou a medalha de ouro da apresentação, deixando até a poderosa Lady Gaga para trás.

De hoje até mais ou menos o fim de agosto – não nos esqueçamos dos Jogos Paralímpicos, logo na sequência, veremos pessoas tentando se superar, quebrando recordes, com infinitas histórias de superação. Lado a lado, sem conflitos. Podíamos fazer isso diariamente. Muitos já o fazem. Mas, a harmonia ainda não é unanimidade. Não custa assistirmos um jogo aqui, outro ali, e pegarmos esse gostinho gratuito de esperança.

Já passamos da idade de sermos realistas. O dia a dia é desafiador. Há um bem, há um mal, há um mal, há um mal, depois um bem. Assim é a vida. Nem tudo ruim, nem tudo bom. A vida. A depressão. A vida. Os encontros com amigas de décadas. Da família que não se encontra há anos. A vida. Do telefonema quebrando a rotina. A vida. Da paisagem. Nem paraíso, nem inferno, apenas o céu sobre nós. Sem nações pelas quais matar ou morrer. Sem fome. John sabia que precisaríamos continuar sonhando para sobreviver nesse caos.

Pelo menos por uns dias. Imagine.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *