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Pedra bruta: Silvio

por Andréa Pontes

Silvio. Abravanel. História. Gostemos ou não. História.

Silvio se foi. Será? Não, não é algo conspiratório. De fato, o ‘homem do baú’ foi para o andar de cima. Mas, um legado desses não irá com ele. Não, mesmo. Obviamente, seremos inundados, nesse momento, por amplos obituários. Morbidez não é a palavra, mas jornalismo. Eu já fiz estágio em televisão e o obituário do Darcy Ribeiro ficou pronto dias antes da morte do célebre antropólogo.  Na sequência, veremos matérias de quem herdará o quê. É parte do rito de uma grande celebridade. Provavelmente, o próprio Silvio pediu para não ter obituário preparado antes da hora.

Enfim, falemos como testemunhas oculares. Com Sílvio, aprendemos a pronunciar ‘micróbio’ para dizer que determinada marca de tênis era livre dele. A gente reproduzia a brincadeira da cabine, respondendo ‘sim’, ‘não’, trocando os maiores absurdos. ‘Você troca a geladeira pela caneta esferográfica usada?’. ‘Simmmmmmmmmmm’. A gente almoçava tentando adivinhar músicas. Mal descrevíamos o maestro Zezinho, mas a gente sabia o quanto ele era fundamental nas notas do piano.

E o que dizer do Show de Calouros? Não se iludam com nomes novos, programas reformatados. Até o momento, é a mesma fórmula. Exceto que é difícil substituir Aracy de Almeida, Pedro de Lara. Até para os mais inteligentes especialistas em comunicação nos dias de hoje. Sem falar de gerações que eternamente serão gratas por serem apresentadas ao Chaves e às novelas mexicanas.

Ninguém é totalmente santo. Ter uma emissora, sobreviver por décadas, ser submetido a matérias sobre audiência, moedas, planos econômicos, governos distintos. É preciso ter o tino de um camelô, um vendedor de canetas. É preciso não ser ingênuo e entender da relação televisão e sociedade brasileira. Não há amadores nesse jogo. Silvio chegou a ser candidato à presidência da República em 1989, a primeira eleição após a ditadura.

Desafetos, afetos, realidades históricas. O fato é que quem estiver de plantão nesse fim de semana, com obituário preparado ou não, vai ter uma aula de história da comunicação em mãos.

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