por Andréa Pontes
De onde menos se espera, é aí que nada vem, mesmo. Que o Brasil vai do 8 ao 80 em segundos, a gente já sabe. Mas, há semanas que a coisa toda transcende limites. Assim como não há saúde que suporte mudanças abruptas do clima, não há saúde mental que resista. Se há uma dica possível nesta sexta-feira, véspera de um 7 de setembro que também promete rebuliços mentais, é se perguntar, sempre: esse fato interessa a quem? É aí que a gente se aproxima um pouco mais da verdade. E, em um ambiente digital de lacrações e cancelamentos, saber o que é verdade, o que é pseudoverdade é uma posição invejável nos dias de hoje.
O que é verdade é que o Brasil perde. Os números da economia estão bons. Nem o mercado sabe explicar – sou repetitiva sobre o quanto o mercado tem sido surpreendido. O Brasil e o mundo perdem há anos na desigualdade de gênero, no machismo, na misoginia e no preconceito racial. É algo que a maioria sai perdendo.
Muitos dos que sofrem não denunciam. Argentina tem um tema assim no momento. O Brasil, infelizmente, também. Quando se fala em crise, inevitavelmente pensamos em prevenção. Então, enquanto há casos assim, precisamos estar muito atentos. E aceitar, de vez, felicidade eterna precisa ser encarada de frente. Encarar que há dias longos demais, há situações tristes demais. Cansaço. Século XXI e temos que falar de dívidas históricas. É rançoso, mas precisamos falar sobre isso.
O descanso vem assistindo às Paralimpíadas. É bom demais ver brasileiros e representantes de outros países contrariando diagnósticos, estatísticas e julgamentos. Uma contramão bonita de ser vista, nesse julgamento virtual diário. A felicidade mais raiz.
Talvez seja exatamente isso, buscar o que está fora da ordem, do padrão da felicidade cansativa. E, contrariando as dificuldades, ganhar forças e vibrar mais forte pelo nos faz rir. Efêmera deveria ser a maldade.
Deveria ser.