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Pedra bruta: Aos vivos em nós, com carinho

por Andréa Pontes

Meu descendente lembrando a festa do Halloween.

Dia 2 de novembro é assim, um dia geralmente nublado, com matérias sobre cemitérios e pessoas orando por quem já foi. Falando de saudade – ou não.

O fato é que o dia 2 de novembro está mais – ao menos na minha otimista visão – no estilo de “A Vida é uma Festa”, da Disney, PIXAR. Miguel, um menino de 12 anos, sonha em ser cantor, mas a família reprova. Em uma aventura que o leva ao céu – Mundo Espiritual – ele reencontra ancestrais, entende o motivo da mágoa da família contra a linha artística e transforma seu destino e o de sua família.

Assim é a vida. Somos descendentes e seremos, um dia, ancestrais de alguém. Juntos e misturados, pelo DNA. Das aulas de ciências, o ácido desoxirribonucleico (um palavrão) está vinculado à hereditariedade, justamente porque traz informações genéticas de cada indivíduo. É o DNA quem transmite característicos de avô para pai, de pai para filho, de filho para neto e por aí vai.

Carregamos isso desde o início dos tempos. Por essas características, herdamos cor dos olhos, jeitos, humores. E muitas miscigenações. E o mundo ainda tem povos que se odeiam. Se eles frequentassem as aulas de ciências, veriam que estão mais misturados do que pensam.

Assim, estranhamente, carregamos nossos mortos. E como eles estão em nosso corpo vivo, ironicamente, mortos é que não estão. É bizarro olhar uma campa no cemitério e saber que a genética nos coloca juntos, em um só corpo. Em “A Vida é uma Festa”, Miguel entendeu que herdou dos avós a paixão pela música. E lutou para salvar a memória do avô. Pois ele estava sendo esquecido pelos familiares.

Quantas vezes esquecemos de nós mesmos. Nós – muita gente. Esquecer-se de si mesmo é esquecer da trajetória de famílias imensas e inteiras. Quanto já foi percorrido, quantas histórias – coisas que nem sonhamos, coisas que queremos esquecer, coisas que não podemos deixar de lembrar.

Muito do sofrer da humanidade vem da falta de identidade histórica. Mal sabemos como chegamos até aqui. E é engraçado, para não dizer tragicômico. Em um momento no qual se discute sobre identidade – com deep fakes, gente usando sua imagem e sua voz sem você saber – ter ciência de quem somos é questão de sobrevivência.

A vida é uma festa genética. E os que se foram, na verdade, estão vivinhos, aqui dentro de nós.

Viva la festa.

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