por Andréa Pontes
flores
Em 24 horas, cabe muita coisa. Coisa que não conversa com outra coisa. Mas estão juntas, ali, durante um dia inteiro. Às 19 horas, geralmente, a gente se pergunta como sobreviveu ao urgente, ao instigante, ao novo, ao bom, ao ruim. No meu humilde caso, é buscar a novela que fala do sertão pela poesia, é a novela de final feliz das 7, é o jogo de futebol daquela noite. À procura da diversidade do entretenimento, ora há um interesse em como os traficantes de drogas são pegos nos aeroportos. Canal próximo fala de turismo, de águas azuis, cristalinas. E os realities, então. Os dramas gravados, pensados ou não, gente como a gente, o perrengue chique, o preconceito, a vida inimaginável do outro. Todos temos vidas, caminhos, que passam pela vida real e pela tevê. Esse olhar nos torna egoisticamente aliviados, e nos convida ao senso de responsabilidade.
Para onde estou indo, o que preciso mudar. Essa semana, ouvi, em uma palestra ‘dessa vida, só levamos o que há no coração’. Leveza é o que se quer. Mágoas, precisamos deixar para trás. É fácil? Nem um pouco. Mas, queremos ou não viver mais plenos? Falar sobre a ferida, com quem se ama, em quem se confia, a dor é repetida até ser extirpada. O duro é continuar, mas é continuando que as coisas arrefecem.
A gente suspira vendo mais bombardeios, agora também no Líbano. Será que temos jeito? Muitas vezes, depois da febre alta, o corpo melhora. Quantos graus o planeta precisa alcançar para a gente mudar?
A máscara de oxigênio precisa ser colocada – literalmente, em meio a fumaças e raros dias de temperaturas mais baixas. É preciso descansar. Repousar a mente, os assuntos todos da vida. Respirar. Dar-se conta de não dar conta.
Ler aquele capítulo. Dormir até acordar, sem o despertador. Aquela água, gelada. Aquela chegada pontual, sem estresse de trânsito.
Vale viver.