Pular para o conteúdo

O Brasil é você quem faz

por Andréa Pontes

Manda dois galões que tá pouco (foto de Andréa Pontes)

Se o Brasil pudesse, trocaria o lema da bandeira. No lugar de Ordem e Progresso, “24 horas é pouco para contar o meu dia”. Senão, vejamos. Em uma rápida busca no Google Trends, alguns dos temas em alta são a Copa do Brasil, o IBGE e o jogador Luan, do Corinthians. Entre as notícias mais lidas do G1, por exemplo, temos o prefeito de São Vicente (SP), Kayo Amado, com irritação por falta de investimentos durante um evento na vizinha Santos; o querido artista Zé Celso internado após um incêndio no próprio apartamento; o Luan, jogador do Corinthians, agredido por torcedores pelo mau desempenho do time; as finais dos jogos da Copa do Brasil. Ah, não, não mencionamos nem um décimo das notícias que assolam o país.

O ICE – Índice de Confiança do Empresariado – registra o melhor desempenho desde outubro de 2022 (época de eleições).  Afinal, o plano arcabouço (nome nada auspicioso, mas um nome precisava ser dado para o teto de gastos e outras medidas) foi aprovado e a queda de braço entre governo e Banco Central deve resultar em queda de juros. Agora, rumo à reforma tributária. Governadores e prefeitos batalham por autonomia e empresários lideram manifesto. Há de se ter regras, o Brasil espera há trinta e cinco anos por elas, mas conciliar todas as necessidades não vai ser tarefa fácil. Um alento: já é possível, Brasil!

Temos transfobia. Temos religiões abraçadas à política e ao tráfico de drogas. Roubo de carros se transformou em moeda de troca por armas. Muito egoísmo. Inversão gigante de valores. Como é que se clama por empatia se não temos amor-próprio? Como podemos separar o bem do próximo do nosso bem-estar? A resposta é um tanto irônica. Melhoramos quando fazemos algo bom. Isso significa bem-estar. Também, uma coisa boa alcançando outra pessoa. Gente feliz não só não enche o saco como faz bem a si mesma e aos outros.

Então, aquele creminho para as mãos precisa ser utilizado. O toque entre mãos é carinho. O perfume do óleo essencial precisa ser sentido. A maré não permite esses pequenos luxos? Arrume a mesa – aquela toalha que você guarda para as visitas. A casa é sua. É bom dar o lugar certo às coisas, às pessoas, a Deus – Universo, Grande Natureza, se preferir. Não estamos acima do planeta. Aqui, do décimo andar da periferia, sei que o que faço impacta quem está acima e quem está abaixo. Toda ação gera uma reação. Isaac Newton nunca foi tolo. Você também não.  Cuide-se. Tenha amor por você. Só assim você vai ver graça em amar alguém. Em ver o outro sorrir. Vai aprender a colaborar, a abraçar-se e a abraçar, a construir e a fazer essa vida valer algum centavo.

Hoje, fim do dia, recebo um vídeo. Um rapaz de quinze anos, autista, ajuda outro jovem, com paralisia cerebral, a fazer um cartaz.  Ninguém orientou. Foi o fazer o outro feliz mais puro – aquilo que está bem aqui dentro de cada um, mas a gente insiste em nublar.  Devia ser obrigatório nas escolas. Porque no Bahia x Grêmio, já há briga entre os jogadores por algo que não se sabe se foi um cotovelo ou se foi um drible fantástico que irritou a defesa gremista.

Vinte e quatro horas é pouco para dar conta de tudo isso. Vamos organizar a casa. Vamos arrumar a cama, lavar o rosto, passar um batom. “Você me abre seus braços e a gente faz um país”. Marina Lima e Antônio Cícero já fizeram a nossa música, Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *