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Pedra bruta: Nos sertões do luto infindável

por Andréa Pontes

Gotinhas de esperança em forma de balões brancos na Catedral da Sé. Imagem: TV Globo

O sertão vai virar mar. O mar vai virar sertão. A frase, de Antonio Conselheiro, não foi dita pensando na questão climática. Mas, serve como luva.  Beato, de Quixeramobim (CE), fundou o Arraial de Canudos. Palco da Guerra de Canudos, narrada por Euclides da Cunha em “Os Sertões”. A monarquia seguia em queda livre e Conselheiro falava em nome da fome e da miséria – dados históricos registram a morte de 25 mil pessoas naquela ocasião, número nada insignificante.

Hoje, temos um mar de queimadas, sem poesia alguma. Investigações apontam que os incêndios teriam começado em vários pontos do País em horários próximos. A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) lembrou o ‘dia do fogo’, quando incêndios florestais foram provocados em 2019, em Altamira e Novo Progresso (PA). Alguns já presos.  Até onde os ventos sombrios soprarão — é uma boa pergunta.

Sombrio é a palavra apropriada para milhares de famílias que tentam fugir dos bombardeios na faixa de Gaza. Acordos são esperados em uma guerra que está prestes a completar um ano. Não é nada, não é nada, semana que vem começa o último quadrimestre. Já estamos com as eleições municipais entre os temas principais e tudo o que implica em termos políticos e econômicos. Até o mês de agosto, conhecido injustamente pelo desgosto, voou. Com Mercúrios retrógrados, cada dia valendo por meses nos memes.

O que não termina nunca é o luto. A perda de alguém é algo que vive, que é eterno, que se modifica, se transforma, muitas vezes sem lugar nenhum. Acredite, há quem nem tenha direito a luto.  Na sexta-feira, é Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas. No Brasil, são mais de 200 pessoas por dia que ‘somem’. São muitas camadas — a violência, a maldade, o tráfico humano. No último dia 30, na Praça da Sé, mães ligadas à ONG Mães da Sé estiveram recontando suas histórias de luto sequer permitido e pedindo ajuda para que um dia o sertão vire mar nas vidas delas. Na ocasião, soltaram balões, para sociedade não deixar o assunto continuar invisível, silencioso de maneira perturbadora. Se cada um doar algo gratuito, a visibilidade ao tema, quem sabe o mar chega no lugar devido. Para quem quiser conhecer mais a fundo, há essa campanha, um convite para falar da invisibilidade.

De gota em gota de gentileza, a gente ainda pode virar esse jogo.

1 comentário em “Pedra bruta: Nos sertões do luto infindável”

  1. A enchente arrastou,o fogo varreu,o ar poluiu,planeta B nao tem,para onde? Tentando morrer de velhice relendo Ensaio sobre a cegueira,degustando drops.

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