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Lembranças

Tive uma amiga de infância, que permaneceu minha amiga até a idade adulta, cuja família era de palhaços desde o medievo, dos teatros mambembes da Europa. Desde antes da descoberta do Brasil, imagine.

Os pais, os tios eram palhaços famosos, que usavam roupas e máscaras da commedia dell’arte.  Minha amiga herdou a roupa e o número que as crianças destas famílias de artistas mambembes faziam pelas ruas. Era uma roupa muito colorida, sapato de polichinelo e chapéu de duas pontas, que tinha argolas que permaneciam erguidas com sinetinhas dentro que, conforme ela se mexia, balançavam dentro da argola. Essas argolas com sininhos ficavam no chapéu, no joelho, cotovelo, tornozelos e pulsos. Ela precisava fazer as cambalhotas sem amassar os sininhos. Era lindo e ela era muito graciosa. O número apresentado ao som de uma música que os sininhos acompanhavam, uma dança que exigia muita destreza física.

Éramos muito crianças. Desde os seis anos eu a vi fazer isso e ficava deslumbrada.

Chegávamos na casa dela e ela tocava ao piano coisas populares que eu adorava enquanto que eu, ao piano, tinha que tocar coisas clássicas como Paulo e Virgínia e Le Lac de Come. Ela se sentava ao piano e tocava, cantando: “Vou-me embora, vou-me embora, prenda minha…”

Eu ficava admirada e achava uma beleza. E era.

Marli Tolosa, psicóloga e pesquisadora

4 comentários em “Lembranças”

  1. Que lembrança magnífica, Suzi Márcia! Eu, de música, a primeira coisa de que me lembro é “Sur le pont d’Avignon” – que eu deveria – mas nunca consegui – decorar no quarto ano da escola primária. Medo absoluto das aulas de francês, que me acompanhou durante o curso colegial. Eram os anos 60, e eu tinha francês no colegial!!! E filosofia!!! E Latim !!! Bjo Suzi!

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