por Suzi Márcia Castelani
Por ocasião do lançamento do livro Todo Mundo Adora Saturno, indagada se a Fal estaria transmutando para a poesia minha resposta foi que na minha concepção a única transmutação que a Fal estaria operando seria a sexual mesmo.
Acompanhem pois é científica a coisa.
Considerando que o nome Fal transcende questões de gênero, a escritora cansou de ser rotulada como mulher e ter sua obra confinada a um gueto dito literatura feminina e está se preparando para alçar voos maiores.
Basta uma análise breve e superficial das capas dos seus últimos livros, a partir de Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite, que já percebemos ali uma ânsia evolutiva, um fervor contido, o desejo de transmudar-se adiado pelo meão cotidiano representado pela sempre presente figura da caneca de café.
Já no Minúsculos ela lá está, ao pé da capa, uma velha e carcomida caneca de ágata tombada e vazia. É a escritora demonstrando sua insatisfação com amarras sociais assaz limitantes e, na ausência de balde, tomba a caneca.
No Sonhei Que A Neve Fervia a prosaica caneca já centraliza a capa mas o primeiro verbo e as cores diáfanas da arte já nos remete a uma realidade quase etérea, sugerindo que a escritora iniciou sua jornada de transmutação, senão corpórea, pelo menos já no uso de substâncias.
Quando então ela chega em Todo Mundo Adora Saturno, a caneca está em negativo, evaporando amor pelo universo e, do espaço, livre de amarras, solta no mundo como quem acaba de tirar o sutiã, a sua linguagem só pode ser em verso.
Versos livres de quem tem voz de algodão doce e eleva a palavra à categoria do sagrado. A prosa da Fal sempre guardou cadência, conteúdo e ritmo. Mesmo que fosse pra dar bom dia. Portanto, a Fal não transmudou para a poesia. Pois não há como mudar-se para um lugar do qual você nunca saiu.
E vocês? Têm uma análise de alguma obra da Fal sob qualquer aspecto?
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