por Andréa Pontes
Anastácias no altar de casa (foto de A.P.)
Joias. O dia, variando entre 37 e 9 graus Celsius. A saúde não aguenta. Gente da segurança do presidente em grupos de zap de golpistas. A qualidade de vida, diz o IBGE, melhorou. O que significa que há 46 milhões de brasileiros na pobreza. Muita gente. Mercado inquieto, ainda, as reformas precisam sair. Ministérios são negociados. É fundamental ler entrelinhas, analisar as manchetes. Porque o País não é para amadores.
Não bastasse o noticiário, há a vida. Aquela que a gente não publica nas redes sociais. A real que a gente encara. Há momentos em que é só ir, porque não dá nem para qualquer análise. Pratos caem, o que se há de fazer. Nem sempre – quase nunca – ganhamos compreensão. Como é que se ganha colo sem nunca ter tido um? Sentir falta do que não se teve, sem nem saber o que significa. Só vai. É a única direção a se tomar.
Você se vê em espelhos do que você recrimina. Sem pausa. Respira. Continua. Mais um pouco. Só mais um pouquinho. Cansa. Os olhos ficam esbugalhados. O choro vem, mas não sai. O peito dói, de tanto segurar o tranco. O retesar dos músculos causa dores alucinantes.
Alguém te estende a mão. O colo, afinal, é isso. É a percepção do outro. É fazer o que se pode. Uma conversa sobre simplicidade, vivificar o que se tem. Nas suas mãos, está a Natureza, ali, viva. É preciso agir rapidamente. Sentir. A tesoura é a extensão das mãos. A vida em você toca a vida da flor. Você faz parte de uma ação simples, com água, tesoura, vaso, flor e galhos. Tudo natural, mas ao alcance de poucos. É espantoso como temos gente excluída de algo que deveria ser normal. As periferias apresentam escassez de flores e árvores. É para poucos. A vida deveria ser para todas e todos.
Um galho de kiwi , duas anastácias e um raminho de folhas fazem uma obra de arte. Uma azaléa cor de rosa e um galho fazem uma pintura. Um abraço. Uma escuta. Um carinho. A carência precisa ser suprida. Há anjos por aí. Às vezes, somos nós quem doamos. Aqueles momentos raros precisam ser guardados, sentidos ao máximo.
“A beleza da flor, quando a fixo, compenetrado, volto a sentir quão profundas são as bênçãos de Deus”, Mokiti Okada.