Coloca a mão na minha bunda, por favor.
Vocês ali, quase dormindo, quase com tesão, quase assistindo ao filme, envoltos naquela bruma entorpecida de quem está de barriga cheia, tonto de vinho, quentinho. Ele coloca a mão na curva da sua bunda, você se estica para alcançar a taça, um peito escapole para fora da colcha, um cão late lá no fim da rua, o fio da meada do filme perdido há muito, vocês querem ir para a cama, mas pelo amor de Deus, quantos passos até lá, uns vinte? Sem condições. Parece que tem um sujeito falando em alemão no filme, vamos prestar atenção que ainda dá pra recuperar, ele dá meio que um ronco quando ri, você bate o dente na taça e dói um pouco, sua nuca cabe direitinho no peito dele, a sala parece um velho navio flutuando a esmo num mar gentil e tem uma mão morna sobre a sua bunda.
amiga, isso não se faz. Tô aqui juntando força pra tentar sair de cabeça erguida, embora o fio da meia esteja corrido, o salto quebrado, o rímel borrado, a mão trêmula agarrando a alça da bolsa, o dente mordendo lábio até o sangue. Juntando força pra sair sem virar estátua de sal, tropeçar sem cair, chorar sem fazer barulho, engolir em seco sentindo as lágrimas escavando gretas no rosto. Juntando força pra não xingar, não reclamar, não pedir, não me despedir, porque qualquer palavra, eu sei, seria uma desculpa para mais um eu e. Pois é. Isso não se faz, amiga, um texto que chega puxando o tapete sem aviso, sem alerta, sem alarme e agora meu passo fica mais lento, meus ombros mais pesados, a hemorragia mais intensa.
liamo
Cáspita, como eu quis um dia escrever assim e não consegui. Manucu, mina!
Eu fiz o que pude, mas não consegui escrever assim. Que perfeição.
uai… saiu o de ontem também. É que eu li de novo, comentei de novo.
:o)
te amo, Branquinho. Que saudade gigante de vc.