Trudia, ouvindo um amigo narrar suas aventuras, eu me dei conta do quão ridícula sou. Estou me comportando nas últimas seis, oito semanas, como aquelas senhoras patéticas dos filmes, as velhas ridículas que se derrubam pro lado do herói belo e jovem, cheio de graça e encantos. Que. Coisa. Pavorosa. Acabo de me sentir tão ridícula. Só agora?, vai perguntar você, cheio, cheio mesmo de razão, há tantos anos testemunha mais do que involuntária da minha constrangedora incapacidade de julgar minhas muitas limitações, o impossível ao meu alcance e, em certos casos, blink blink, o caráter alheio.
Pra você ver quão ridícula venho sendo, até eu me achei uma idiota.
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O bacana de manter um blog que ninguém lê é que posso choramingar. Quem vai ler? Pois é. A marca do meu fracasso e ruína: não tenho dinheiro para arrumar a geladeira. É simples assim. Vamos usar a geladeira de fora – que ainda bem está aí – porque dona Fabia não tem a menor capacidade de gerir a vida.
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Ah, e você achou que “ele tem uma namorada” (e eu me comportando como se isso realmente fizesse diferença) ou “o orçamento da geladeira está fora de questão” celebram o dia de hoje, para além do “pago duas internetes, a claro morreu há 4 dias e a vivo está a um pé do abismo”, saiba, não acabou: descobri que meu livro de comida com a Luciana não é um livro. Fiquei tão triste. Meu livro não é. A parte da Luciana é mais do que um livro, é um livro excelente. A minha parte é um imenso choro, bastante patético. Sequestrei a pouca literatura que produzia e me perdi em sentimentos errados, pela pessoa errada. Isso afetou como escrevo (para melhor) e a respeito do que escrevo (para muito, muito pior). O tema de toda minha literatura parece ser é: ele não me ama, ele não me quer. A dor, que poderia me transformar em uma escritora de profundidade, acabou por me transformar numa choramingas. Quando não se é bom na única coisa em que se é bom, o chão desaparece.
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A voz voltou, dei todas as aulas, darei todas as aulas, para sempre. A febre quase cedeu, orelhas razoáveis, febre oscilando ainda um cadim, mas nada parecido com a semana passada. Todas as aulas. Para sempre.
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Preciso de dez novos alunos para fechar as contas. Fechar as contas e arrumar a geladeira.
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Minha única solução literária, acho, (três sessões para, mais ou menos, lidar com isso – a de hoje foi um primor) é correr na direção da ficção sem olhar para trás. Fabia é uma narradora horrenda e assassina de talentinhos petiticos feito o meu. Lavinia, a narradora do Irineu, a moça do quadro perdido, a diletante que escreve sobre pintores como se entendesse alguma coisa: boas narradoras. Chega de Fabia e sua imensa dor. Parte da dor foi herdada pela Lavinia, mas a Lalá vai morrer lá pra março, então foda-se. O D dela se importará tanto quanto o meu e está, olha, tudo bem.
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Chega de cozinha. Vou comer sanduíche até depois do Natal.
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Tão bom resmungar sozinha. Olá, Drops. Eu tenho você. Só você, mas que diabos.
– a raiva que eu tenho de quem nos coloca nessa posição
– eu leio mas minha casa, minha vida é ainda mais bagunçada, então, né
– sem comentários
– o corpo doer a alma: sempre
– quede alunos, apareçam alunos, não sejam bobos, sejam alunos da Fal
– você tem narradoras incríveis
– ontem fiz sanduíche de atum com pera e só você pode me julgar
– eu amo blog. melhor lugar.
Meu deus esse sandubaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!