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Relatório, coisas que brilham no escuro, molho de pimenta, sapatinhos cor de palha, um chileno rose de rótulo bonito e as ordens médicas que me liberam para respirar

Tenho acompanhado o processo criativo do Max, que não quer que eu seja a preparadora de originais dele, mas quer que eu seja a preparadora de originais dele. É impressionante como a cabeça do Max funciona e a capacidade de pesquisa do cara.

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Acerca dos meus livros, um deles (que tem um nome lindo que ainda não quero dividir com ninguém) está virando uma coisa que eu não estava esperando na vida, ainda não, é cedo, é antes, é quase e eu preciso de tempo para lidar com. Esse negócio de trabalhar o dia todo para pagar as contas é prejudicial à escritura de livros, arrumação de casa, processo criativo e cicatrização. O Manual  ainda tem tanto chão pela frente que às vezes me pergunto onde fui me meter. Asfalto está mais ou menos parado, texto a respeito do Klee completamente parado. O livro a respeito do autor modernista não está sequer esboçado.

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Abri um lindo rosé que chegou pelo correio. Achei que quando eu finalmente pudesse entrar pro clube do vinho já estaríamos bons amigos, que ele seria o cara a ser adicionado no site como “quem nos recomendou a você” e falaríamos a respeito das garrafas que chegam, mas claro que não. Claro que não.

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Perdi uma autora hoje, o que me é um golpe financeiro, mas, principalmente, um golpe de expectativa. Eu realmente achei que ergueríamos o livro dela juntas. Sei bem que não posso controlar o horário dos outros, se vão ou não se empenhar ou, caralhas, se têm ou não tem uma história para contar. Mas a decepção está aqui. É meio ridículo dizer isso, na superfície parece um autoelogio (é, sim, uma baita revelação de defeito), mas preciso mesmo aprender a gostar menos dos clientes e de seus livros suas promessas do que talvez, um dia, venha a ser um livro. Preciso, preciso. Para além de D e sua babaquice cruel, outras coisas nessa vida precisam, também, parar de me atingir. Posso até visualizar a SuperFal Peitos de Amianto, jamais atingida por coisa alguma, jamais dolorida, jamais em carne-vida, jamais tocada, jamais chorando no banho.

2 comentários em “Relatório, coisas que brilham no escuro, molho de pimenta, sapatinhos cor de palha, um chileno rose de rótulo bonito e as ordens médicas que me liberam para respirar”

  1. – Pessoas que pesquisam para escrever literatura: admiro assim, de aplaudir de pé
    – Quero uma estante toda só de livros da Fal na minha casa. Te vira aí pra escrever tudo.
    – Eu tive minha fase de trocar rolhas e rótulos. Terminou com meu coração partido em banda.
    – Pessoa que se apega, magina, eu, nunca.

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