por Cyntia Menezes
A advogada com dois filhos que pede o divórcio, compra um apartamento e abre um perfil no Tinder. O músico sul-americano que vai a um congresso na Itália e escolhe nunca mais voltar. A executiva que, num espaço de seis meses, perde tudo e vai embora do país sem olhar para trás. O casal em crise que decide seguir junto e se muda para uma casa com jardim. A menina de sete anos que perde a mãe para um derrame repentino e, sem pai conhecido ou outra família, vive com mães emprestadas. O imigrante que sobe num bote de borracha com esperança de um futuro melhor num país desconhecido. Os pais que veem o último filho ir embora de casa. Os idosos que, um a um, vão perdendo os amigos da vida toda para a passagem inexorável do tempo. O jovem que decide trocar de profissão no meio do curso universitário. O religioso que deixa a Ordem e começa a namorar. O solteiro rico e convicto que encontra o amor da sua vida e forma uma família. A mãe que, depois de meses hospitalizada com prognósticos ruins, volta a respirar, falar e andar sozinha. A jovem professora que descobre um câncer. A escritora que, depois de lutas inglórias, descobre que dar aulas é o que ela mais gosta na vida. A atriz que abandona o glamour dos tapetes vermelhos para viver numa fazenda e ordenhar vacas. O estudante que recebe a carta dizendo que ganhou a bolsa de estudos. O estudante que recebe a carta dizendo que não foi dessa vez. O bebê que decide que andar é melhor do que engatinhar. O cachorro abandonado que encontra um lar. O cachorro com lar que é abandonado. O bar da esquina que troca de dono. O novo pároco da igreja do bairro. Alguém que lê Isabel Allende pela primeira vez. A primeira vez que encontramos quem viria a ser nosso melhor amigo. O atleta olímpico que compete pela primeira vez. O atleta olímpico que compete pela última vez.
Quando aprendemos a dirigir. Quando pintamos as paredes da casa. Quando aprendemos a nadar. Quando compramos nossa primeira cerveja no bar. Quando andamos de avião pela primeira vez. Quando nos formamos. Quando é segunda-feira. Quando amanhece o dia, cada dia. Quando nos damos conta de que estamos errados. Quando pedimos desculpas.
Quando finalmente (nos) perdoamos.
Tudo diferente. Tudo recomeço.
Cyntia Menezes – Sou advogada, fascinada por tecnologia, escritora diletante, professora ocasional, neurótica profissional e fã de podcasts true-crime.
Texto tão verdadeiro e delicado. Parabéns amiga!
Obrigada, querida!
Tantas possibilidades e tão pouco tempo para escolher… Amei sua perspectiva! Bjs
<3 oi amor
Que coisa mais linda. Fui lendo e lembrando dos meus recomeços.
Coisa boa, né?