Quando você escreve, algumas coisas são escolhas. Conscientes, bem pesadas, bem pensadas. A maioria, eu diria. Algumas coisas, quando você escreve, não são escolhas. Você não decide. Você planeja e, na execução, aceita as mudanças, alterações de prumo e de rota. Não, não se trata da picaretagem mágica que alguns autores adoram propagar, “as personagens têm vida própria”. Trata-se, sim, de que a realidade se impõe. O vestido pendurado na arara não é o vestido do croqui, a ponte que seu carro percorre não é a ponte da prancheta. O livro no papel não é, jamais será, o livro que existe na sua cabeça, no mapa mental na sua parede, no seu esquema, no seu resumo, no planejamento que você entregou na editora. Algumas coisas, porém, não são escolhas. O fator confortabilidade, o “sentir-se confortável”, é um deles. A cadeira, o formato do mouse dentro da sua mão, o cheiro do seu escritório, seu apoio para os pés, os sons que embalam o trabalho, as folhas do dicionário preferido sob a pele dos seus dedos, as abinhas abertas que sorriem detrás umas das outras, a casa que guarda seus textos. Cada um destes elementos, ou é seu, ou não é. Pertence a você, ou não. Quando você escreve, mais importante do que qualquer outra coisa, é procurar e encontrar o seu lugar para escrever.
quando você escreve, tudo é mais certo e mais bonito.
só lhiamo