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Pedra bruta: Perder, diminuir, não importa – o verbo que você precisa ter em mente é lutar

por Andréa Pontes

A imagem é uma pintura, encontrada em escombros de uma casa em Pompeia (Itália).

Adoro os verbos das manchetes. O IPCA de junho PERDEU força. A inflação DIMINUIU – seria mais apropriado. Ficou em 0,21 por cento, abaixo da inflação de maio. Mas, nossos bolsos são alheios a essas análises. O que eles e nós queremos é que as contas caibam no orçamento. E, para isso, senhoras e senhores, é preciso equilíbrio. Beba menos café e coma mais alface, é o que diz a economia para você.

Há os que já desistiram dessa luta diária. Vencidos pela economia, pela vida, a população de rua está invisível, ironicamente a olhos vistos nas calçadas das cidades. Com as temperaturas em baixa, molhados da chuva, nem sempre agasalhados como se deve. Prefeituras tentam oferecer paliativos, mas a fome está aí, o desemprego está aí, a falta de saúde mental está aí. Algo que precisa ser reformulado, urgentemente. Paliativos também em escolas públicas de algumas cidades, oferecendo almoço durante as férias para famílias. Algo não está muito certo.

Quem tem mais pressa é o mercado. Reforma Tributária em pauta, taxa de blusinhas – você aí, que gostava de uma blusinha a 20 reais, aceitava mais uns reais de ICMS, agora pode ver sua blusinha ir para 50 mangos. Está errado ter taxa? Não. O Governo vai resolver o problema arrecadando mais? Ainda não, o buraco é mais embaixo. No meio disso, estamos nós. Mais uma para o caderninho: além do café, sai a quantidade excessiva de blusinhas.

A política econômica vai além de substituições. É preciso um exercício de abalar as estruturas. As históricas. Aquelas, que impregnam o DNA nosso de cada dia. As burocracias, o ‘toma lá, dá cá’, os favores, o poder, o protecionismo dos setores. Quebrar tudo isso para algo coletivo não é fácil. Os pessimistas vão dizer que é impossível. Mas, uma coisa temos que concordar – para algo novo vir, precisa destruir outro algo. Quem sabe, gerações menos apegadas a ter, mais conscientes ambientalmente falando, a inclusão social pode vingar.

Vai levar tempo. Nessa cultura da inteligência artificial, ainda somos selvagens. Enquanto uma geladeira já calcula o que falta e o que precisa ser comprado (será que ela vem com monitoramento de IPCA junto?), ainda temos adolescentes pretos sendo revistados pela cor. Ainda temos joias sendo vendidas indevidamente. Enquanto nos recompomos do incêndio da boate Kiss, temos um dependente químico apanhando em uma clínica de reabilitação. E ainda discutimos se policiais precisam ter câmeras na farda ou não.

Ainda há muito por vir. Não sabemos o que tem na cabeça do roteirista. Enquanto isso, você vai tirando a batata inglesa da lista, vai adicionando mais água nesse leite longa vida, para render mais. Para dar um ânimo, talvez um pedaço na promoção pelo Dia da Pizza (não, eu não ganho um centavo de comissão, acredite).

A luta continua.

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