por Andréa Pontes
Não é fácil ser beija-flor, mas é tão bonito — Foto: G1
A gente quer encerrar a sexta-feira bem, mas amanhecemos com notícias desafiadoras — no mínimo. Poderíamos discutir o motivo de a taxa de juros baixar nos Estados Unidos e subindo no Brasil. Poderíamos falar de dezenas de candidatos com mandado de prisão em aberto — pensão alimentícia, estupro de vulnerável, entre outros crimes. Poderíamos também falar da pizza e do ketchup distribuídos pela Katy Perry aos fãs. Sem falar nas fumaças e das queimadas criminosas. Ah, temos Hezbollah e Israel em tensão extrema.
O melhor é a gente firmar bem os pés no chão. No meu caso, pés femininos. Pés brasileiros, de uma baixinha, de cabelos escuros, mãe atípica, classe média. Que foi criada por Xuxa e paquitas, maioria loira. Que se esforçou para caber nos padrões de tops e biquinis no Rio de Janeiro.
Não foi fácil caminhar. Não é fácil para mulheres, no Brasil e no mundo. Estamos em 2024 e temos que falar simplesmente o óbvio e batalhar pelo básico. Ainda temos homens agarrando meninas e mulheres na rua, em plena luz do dia. E ainda tem gente que culpa as meninas e as mulheres por isso. Ainda há tanto, que é bem cansativo até de registrar tudo isso.
Mas, o que eu quero mesmo é continuar a incentivar outras mulheres, a torcer para que mais e mais mulheres tenham voz. É pouco para o tamanho da briga, mas particularmente fico feliz quando contribuo, nem que seja um pouquinho, a outras mulheres vencerem.
É como a parábola do beija-flor, que corria até o lago e pegava a carregava a água que podia no bico para apagar um grande incêndio na floresta (pois é, temos fatos na história). Ao ser criticado por ser uma luta ineficaz contra o fogo, o beija-flor respondeu “estou fazendo a minha parte”. Saudades de quando o sociólogo Betinho contava essa historinha e complementava “se cada um fizer a sua parte…”.
É como esse texto, não há como abordar tudo, tratar de todos os ângulos. Mas, é igual ao beija-flor.
Vem, primavera.