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Pedra Bruta: O sertão de Guimarães Rosa está em nós

por Andréa Pontes

Luisa Arraes e Caio Blat

Férias. Trabalho. A programação da tevê solta alguns especiais. Um deles, uma minissérie de quatro capítulos, baseada no livro Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. Adaptada para o momento atual e à área urbana, algo que me surpreendeu. Além das atuações brilhantes de Luís Miranda, Rodrigo Lombardi, Mariana Nunes, Caio Blat e Luisa Arraes, as frases de Guimarães Rosa e o sertão sendo retratado pela pobreza e a miséria urbanas, a história toda fala com o sertão que há em nós. O sertão solitário e que nos acompanha.

Seja pelas tragédias de vida que vivemos e como elas vão junto com a gente vida afora.  Ou pelo caminho de tentar fazer o certo em uma realidade cruel. O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando, explica Rosa por meio de seus personagens.

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. A aspereza diária também tem sua beleza, porque ela nos torna, um dia, mais serenos em meio ao caos. Mais atentos aos nossos, mais presentes. 

Mesmo em uma vida perigosa, como a retratada no sertão da vida, a gente passa, enfim, a encarar e a se encarar de frente. A assumir responsabilidades, a cuidar do nosso jardim, da nossa terra. A se calar mais. Voamos, caímos, batemos com as asas no chão do jeito guimareano de ser.  Feito um conselho de Zé Bebelo, de que  a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente.

Outro dia, nessas de rolar telas nas redes sociais, ouvi da jornalista Izabella Camargo uma provocação. Quem aqui usaria um par de tênis caríssimo, mas com número menor? Ela então explicou que, com o tempo, os pés estarão com bolhas e doloridos e vamos deixar de andar.  Tentar caber onde não se cabe mais. Assim é nosso sertão interior. A gente tenta empurrar para trás, quando percebe, ele está lá novamente nos cercando.

O jeito?

Viver.

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