por Andréa Pontes
Carla Cristina, do hit “Xibom Bombom”, do começo dos anos 2000, já dizia “o rico cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre”. Imagem: @carlacristinaoficial
Ontem, em cadeia nacional para rádio e televisão, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou o plano com medidas fiscais (na íntegra, aqui). As manchetes de hoje estampam “Haddad restringe benefícios de militares em novo pacote fiscal” (Metrópoles); “Haddad confirma que IR para quem recebe mais de R$ 50 mil por mês irá subir para isentar ganhos de até R$ 5 mil”. Ou, ainda: “Estadão Analisa: pacote pente-fino de Haddad rola bomba fiscal para frente e ainda traz surpresinha”. O que podemos, afinal, extrair do anúncio de ontem? Para mim, para você, os brasileiros que empurram o carrinho de compras e da Economia nesse Brasilzão?
Primeiro ponto: de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), já em 2014, quem ganha mais de 20 salários-mínimos, no Brasil, corresponde a menos de 1% da população. Ou seja, na média, quem ganha até três salários-mínimos, praticamente 80% dos brasileiros, gera uma arrecadação de mais de 50% em tributos no País. Se você acha que as coisas mudaram de 10 anos para cá, veja o que a pesquisa “Nós e as Desigualdades”, da OXFAM, revelou esse ano: 90% dos brasileiros ganham menos de R$ 3,5 mil reais por mês e 70% recebem até dois salários-mínimos.
É isso mesmo: quem paga a maior fatia da conta é quem ganha menos.
Sigamos. Entre as principais medidas, aumento do salário-mínimo superior à inflação; reajuste no abono salarial. Um reflexo tentado há anos, e catapultado pelo atual inquérito do golpe contra a posse do presidente Lula: mudanças na idade mínima para aposentadoria dos militares e limitação de transferência de pensões. Também o compromisso de se acabar com supersalários entre os servidores, respeitando um teto salarial.
O Governo Lula vem, desde 2023, promovendo mais benefícios sociais; acabou de cravar um marco histórico na reunião dos 20 países mais ricos do mundo, o G-20, costurando um projeto global de combate à fome. Em seu discurso, ontem, o Ministro Haddad enfatizou uma série de programas do Governo que deram mais alívio a quem ganha menos: Desenrola, Acredita, com mais crédito para quem quer empreender no País. Mencionou a redução de taxa de desemprego, o PIB avançando para 3%. Importante lembrar como o País estava, em 2023.
Por isso, quando você vê o mercado insatisfeito, o dólar a R$ 5,91, entenda: estamos falando de um lado que nunca vai ficar feliz. E, note bem quem mais vai se beneficiar desses anúncios. E se você acha que o jogo acabou, ainda nem começou. O pacote precisa passar pelo Congresso. Há um pano de fundo, com o Banco Central mais amistoso pelas mãos de Gabriel Galípolo. Há as eleições 2026. Há uma tentativa de golpe militar sendo investigada.
Então, está mais do que na hora de entender o que há por trás de manchetes, reações e quem é quem nesse jogo de tabuleiro insano que se chama Brasil.
Cessar-fogo, só se for no Líbano.