por Andréa Pontes
Povo Yanonami – fonte: blog Marco Zero
Viagem é sempre uma aventura. Mesmo que para lugares conhecidos. É a parada para o banheiro, é a parada na casa que tem mamão no nome, mas não tem mamão. É a madrugada sem intercorrência na estrada. É o alívio de ter passado antes de um caminhão cheio de pedaços de madeira tombar na estrada.
Tudo vale em família. Ter que trabalhar sem ter dormido durante a noite. Respeitar as diferenças, mesmo que todos vindo de origens comuns. É a diversidade cheia de raízes. Ultimamente, conversar com a ancestralidade nunca foi tão necessário. Algo temos que aprender, seja nos erros ancestrais ou nos valores que devem se perpetuar. Talvez a gente fosse mais humano, melhor, se nos lembrássemos mais de onde viemos.
Entenderíamos que não faz sentido nos odiarmos por sermos diferentes. Que a História mostra, com clareza, que guerras pelo poder nunca trouxeram bons resultados. Países que nunca mais se reergueram, famílias destroçadas, traumas em culturas e, infelizmente, mais ódio, pelo desejo de vingança. Em meio a isso, pessoas que não pediram por isso, não concordam com isso, mas perdem casas, rumos.
O mais estranho disso tudo é que o DNA está dentro de nós. A nossa história, desde os parentes mais longínquos. Mas, só queremos saber do lado de fora. E, em meio a um turbilhão, que é a vida, corremos o risco de nos perdermos na arrogância. Como bem diz o imortal Ailton Krenak, em “Um rio um pássaro”, se um dia a Terra conseguir nos expulsar de vez do planeta, ninguém vai sentir a nossa falta. Os bichos, as florestas, os oceanos – todos iam respirar melhor, aliviados.
Assim ensina Krenak: “se nos permitirmos descansar o corpo na natureza, todo o universo passa a trabalhar a nosso favor. para pescar é preciso do apoio do espírito da água, é preciso negociar com este espírito. assim como o vento que carrega sementes, a água também carrega as suas sementes. a nova vida que nasce carrega consigo a memória do antigo. é o dinamismo que miscigena o velho e o novo, assim é a vida”.
É tão simples. Quando se sentir desnorteado com toneladas de informações, com tantos casos escabrosos, de atear fogo em colchões de moradores de rua até mísseis dizimando povos, pegue um álbum de fotos. Daquele tempo que filme era revelado e só havia 24 a 36 poses. Reveja-se e olhe para os seus. Ria das calças boca de sino, das costeletas, tenha saudades das saias balonês e dos laços gigantes. Relembre quem você é.
E pensar que Krenak levou quatro horas para escrever “Um rio um pássaro”, quando viajava com o fotógrafo japonês Hiromi Nagakura pela Amazônia.
Genialidade é simples.