por Andréa Pontes
Chaplin e a personagem Carlitos em “Tempos Modernos”
PEC é a sigla de Proposta de Emenda Constitucional. Há uma PEC que está dando o que falar, essa semana. Trata-se de uma proposta para reduzir para 36 horas de trabalho por semana, no Brasil. Na Constituição, são previstas 44 horas. E, na média, segundo a Organização Internacional do Trabalho, nós, brasileiros, trabalhamos aproximadamente 39 horas semanais. Esse número é inferior comparado aos países em desenvolvimento, mas acima, quando comparado a países a exemplo da França, Reino Unido, Itália, por exemplo. Na China e na Índia, a média é de mais de 46 horas por semana.
Política e economicamente falando, há muitos interesses, dos mais diversos setores. Há, ainda, o embate Governo, oposição, polarizações. Muito pano para manga. Mas, o que nos faz refletir é o tempo. Após uma pandemia de Covid-19, do que temos feito com o planeta e uns com os outros, vale pensar. O que temos feito do tempo que nos resta aqui? A Revolução Industrial trouxe comportamentos na educação e no trabalho, salas, ficar sentado, ficar diante de máquinas por oito horas seguidas. Assim, Chaplin retratou em Tempos Modernos um homem do povo que precisa rosquear parafusos, que tenta, até mesmo, se alimentar com a ajuda de uma máquina sem parar de trabalhar, sem parar de produzir.
Domenico di Masi defende a criatividade incentivada pelo ócio. O dolce far niente. Não por acaso temos ideias quando estamos relaxados, distraídos. O ócio faz parte do trabalho. Não à toa dormimos com um texto e, na manhã seguinte, a gente o deixa melhor. Também não é do nada que a Organização Mundial de Saúde tem falado dos impactos da falta de saúde mental. Muitas informações, toneladas de dados, uma sociedade ágil e produtiva.
Portanto, vale e muito analisarmos as notícias da PEC 6 x 1, como vem sendo chamada, por vários ângulos. Os interesses e públicos envolvidos, as tendências pelo mundo. Mas, o que considero mais importante é o que pensamos sobre o tempo e a vida, a vida e o tempo, o que compõe a nossa vida diária.
É preciso tentar (e conseguir) viver além das manchetes.