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Oitocentos e quarenta quilômetros, oitocentos e quarenta quilômetros, anda um pouquinho, para um pouquinho, oitocentos e quarenta quilômetros (e azeitonas, abacates, dias e a triste constatação de que estou envelhecendo)

reflexo

Eu lhe contei sobre os oitocentos e quarenta quilômetros que colocarei entre nós esperando o quê? Não, por favor, não vou sobreviver tão longe de você? Ou: Ah, por favor, me leva?

Para uma mulher com mais de cinquenta e extremamente inteligente, posso ser bem, bem burra, muitas horas por dia.

*

Os dias têm sido apenas o que eles conseguem ser, como cada um de nós. Às vezes pulo voluntariamente no fosso da dor, mas tenho evitado, acho. Não leio, não confiro as fotos novas e, ei, mais de vinte e quatro horas sem mandar recado.

Transformei a mim mesma num drogado em recuperação.

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Cozinhando para ter o que escrever no meu livro com a Nepomuceno. Craque em transformar cebolas em quadradinhos chorosos. Craque em risotos. Craque em caldos. Craque em colocar um prato só na mesa.

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Uma confissão: um dia, coloquei dois pratos, duas taças, dois de tudo, como se você viesse. Daí comecei a me sentir tipo aquele cara que ouve a voz da vó na cabeça e vira groupie do Hannibal Canibal e tatua um dragão nas costas e leva a garota pro zoológico para acariciar um tigre e daí parei com isso no mesmo instante, porque, né, era só o que nos faltava.

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Converti Camila, aquela alma pura, ao maravilhoso mundo do cuscuz e agora ambas seguimos a receita da divinal Nigella.

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Outra conversão: azeitonas pretas. Não entendo como pode haver vida sem elas. Lasquinhas pretinhas, salgadas, afiadas em tudo que faço, em tudo que ponho na boca.

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Uma esquisitice: não suporto mais abacate doce. Aquele com leite. Algo se moveu dentro de mim e, agora, abacate, só salgado, saladas, sanduíches.

Envelhecer é tão esquisito.

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Um dia você me mandou uma foto do seu sanduíche de queijo e eu venho tentando reproduzi-lo, obsessivamente.

4 comentários em “Oitocentos e quarenta quilômetros, oitocentos e quarenta quilômetros, anda um pouquinho, para um pouquinho, oitocentos e quarenta quilômetros (e azeitonas, abacates, dias e a triste constatação de que estou envelhecendo)”

  1. Azeitona faz a refeição ficar dinâmica. É tipo a cereja do bolo. Só que é azeitona.
    Durante anos eu não podia nem ver fotografia de azeitona. Tomei um porre. Bebi até a água da lata.
    Depois de longuíssimo e tenebroso inverno estos nem de novo: Eu e as Azeitonas. E a vida segue linda e dinâmicas.

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