Meio bêbada, muito triste, muito só, meio assustada. Queria tirar uma foto bem charmosa da minha linda taça pra você ver e pensar Nossa, que coisa mais linda, se eu vivesse com essa mulher meus dias seriam assim banhados em beleza (não a minha – eu não tenho – mas as das coisas, da luz, das maneira incrível como eu disponho a vida), em ordem, em bebidas rosadas e doçuras sem fim, mas você não me lê em absolutamente lugar nenhum, eu mal existo (e sei que já disse isso e sei que estou usando muitas aspas, o que deixa a S. com dó da minha falta de categoria literária) e de mais a mais, não posso tirar foto alguma daqui porque meu entorno está uma zona federal. Só posso me lamentar e fazer frases longas e hediondas. A tradução vai bem, a arrumação da casa vai mais ou menos, a guardação de dinheiro vai péssima, a organização da vida vai pavorosa. Escrevi dois poemas choraminguentos de Saturno para você, um horror sem fim, mendicância, falta de dignidade, já vimos esse filme. O fato de você não me dar a mínima e de nunca ter querido ser meu amigo de verdade não me adianta. Continuo querendo o que quero, continua tudo igual. Quase igual. Espero as suas notícias terríveis a qualquer momento para, então, ah, então. Até lá, nem sei. Comi chester (vou comer chester até 2076), comecei a arrumar os livros de moda, botei metade da casa no lixo. Arrumei uma aluna nova para as sete da manhã das sextas-feiras, perdi a aluna das 16h do mesmo dia e comi biscoitos e cuscuz hoje. Hoje, hoje, hoje. Estou completamente bêbada.
Desde que voltei pra casa eu não fiquei triste, triste de verdade. Nem alegre. Nem calma. Nem nada que se costuma usar pra definir um estado. Meio oca, talvez. Quando alguém cresce tanto no peito, é difícil se acostumar com a ausência do peso. Fico escutando Depois, da Marisa Monte, em looping pra ver se me convenço. Tirei uma foto do meu lindo óculos. E faço de conta que não quero saber se ele viu. Tenho intenção de passar uns dias deixando o mar lavar a ferida. E bebendo mimosas. E caipirinhas. E cervejas. E alguma água de coco. Se ele soubesse – mas ele não vai – talvez ele pensasse: se eu vivesse com essa mulher, eu seria um alcóolatra. Digo eu: melhor que ser um adicto da infelicidade (me perdoa, estou decompondo a amargura, espero em breve ter outros sabores). Minha pia está limpa, minhas roupas estão lavadas, o chão está aspirado. Ok, a cama está bagunçada e tenho livros demais dentro do quarto, mas, espiando rápido, 2022 já começa melhor do que terminei 2021. Eu não curto chá (ou infusão, como você e o Fabi preferirem), mas ontem eu tomei banho de camomila. E fiz uma pequena prece – para os deuses gregos, que são os únicos que conheço pelo nome e tal. Comi pizza ontem, comi pizza hoje. Com café. Doei coisas, ganhei uma churrasqueira de fogão. Um batom nude e água micelar – tive que pesquisar pra descobrir o que é. Vi muitos episódios de queer eye sobre pessoas incríveis que se trabalham muito pra fazer o mundo melhor. Fiz isto enrodilhada na minha preguiça. Foi confortador passar o ano só e confirmar que sou desnecessária. Estou lendo um conto com uma personagem se chama Glosspan. Nem precisa muito mais do que isso, né?
Ai, Lu. <3