por Andréa Pontes
Na periferia, onde a verdade nasce, também há glamour. E casinhas para passarinhos. (foto de Andréa Pontes)
Você já assistiu a um exame de função pulmonar? Meio angustiante. Você ouve a enfermeira dizendo ao paciente “agora solta o ar, solta mais, aguenta mais”. A cara do paciente desnuda o pensamento. “O ar já acabou faz tempo, e você ainda quer que eu continue?”. Isso nos faz pensar. Não prestamos atenção, mas, sem respirar, não há vida. O respirar é simplesmente algo divino. Inspiramos vida e exala o que não nos serve mais.
Não precisa avaliar os pulmões para saber que mal respiramos. Entre um “inspira, expira, não pira”, os combustíveis, que haviam sofrido redução, logo sofrem o impacto do ICMS. Ninguém vê os postos baixando os preços. Tudo o que queremos, no fim do dia, é pagar os boletos e colocar algum conforto no carrinho de compras, sem o cartão de crédito nos fazer subir pelas paredes. Você e eu estamos na torcida para a Comissão de Política Monetária (COPOM) do Banco Central, nessa semana, baixar a Selic, a taxa básica na Economia. Até para segurarmos mais um pouco a respiração, já que ainda essa semana vamos ver se há teto aos gastos nas contas públicas. Ainda precisamos guardar um pouco de oxigênio para que a reforma tributária avance e o jogo tenha regras. A regra é óbvia, do Congresso à nossa mesa da cozinha: é preciso gastar menos.
A essa altura, a enfermeira diz que o paciente precisa repetir todos os processos. A cabeça sente o tranco e dói. A enfermeira está ali caso haja desmaio. Precisamos de mais enfermeiros, pois há famílias desabrigadas em Santa Catarina, há pais chorando a morte de uma adolescente em Cambé, Paraná. Há gente mostrando uma banana (isso, mesmo, a fruta) para uma pessoa negra, na tentativa de rebaixá-la por conta da cor preta que ela tem.
Suspiro. Profundo.
Respirar é um ritual. O nariz é fundamental, pois ele filtra o ar. A boca deve estar fechada. Ao exalar, o ritmo cardíaco diminui e o indicado é que esse processo dure mais do que a inalação. Segundo reportagem da BBC, são 16 respirações por minuto, 23 mil por dia. Cada vez mais, respiramos mal. Cada vez mais, também, nos pedem para irmos mais devagar. Exageramos nesses últimos séculos.
Respiremos fundo.
Um ar bem respirado para todos.