por Andréia Pontes
Praia de Ipanema – segunda mais bonita do mundo (foto: José Raphael Berrêdo – G1)
Temos um pé torcido no meio do caminho. Um atraso na coluna e a minha editora é compreensiva demais, demais. Há dias nos quais a ideia está na cabeça, mas a escrita não acompanha. Esse é um teaser da coluna de amanhã.
Então, vamos à coluna atrasada e colada na de amanhã. A de hoje. O Brasil está liderando o G20 até novembro deste ano. É a nossa vez. G20 é um grupo das maiores economias do mundo. Uma lista que inclui África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, União Europeia, União Africana. Uma mesa que responde por 85% do PIB – Produto Interno Bruto – mundial. São dois terços dos oito bilhões de pessoas no mundo e 75% da economia internacional. O G20 tem 25 anos de atuação, originado muito em função de crises que afetaram o mundo (México, Ásia, Rússia e a mais recente, de 2008). A ideia é discutir questões macroeconômicas, buscando mais estabilidade. E, no caso, o mais urgente, a sustentabilidade das economias mundiais.
Todos eles estão reunidos no Rio de Janeiro, o principal cartão-postal do Brasil para o mundo. A praia de Ipanema, escolhida como a segunda mais bonita no planeta (pelo guia Lonely Planet, um dos principais no mundo), perdendo só para a da Austrália, diz muito sobre isso. Em pauta, a fome e a pobreza, desigualdade social – pontos urgentes a serem discutidos na visão do Brasil. De olho na COP 2025 – a Conferência da ONU para o Clima – o Brasil ganha protagonismo. Não só por ser o mandachuva do G20 , mas porque o nosso País é capaz de zerar as emissões de carbono antes que todo mundo. Ou seja, quando você ouvir falar do G20, saiba que há muitas coisas estratégicas para a humanidade em jogo.
Falando em humanidade, não há como não mencionar o imbróglio entre Brasil e Israel. É certo que em comunicação, menos é mais. Porém, há uma coisa nessa polarização de ofensa e ofendido que é maior do que tudo. E deveria ser a prioridade de cada ser humano na Terra. Vidas. Vidas importam. A desproporcionalidade da matança em Gaza é algo que marcará a História. Nunca mais aquela região será a mesma. São crianças, mulheres, homens, médicos, que nunca pediram tal conflito. O Holocausto é algo sem precedentes. Mas, isso me lembra Eduardo Galeano, sempre ele, um dos meus autores preferidos – já falei sobre isso por aqui. É um dos responsáveis por eu ter escolhido o Jornalismo – não exatamente esse, que vemos hoje (isso fica para outra coluna, quem sabe). Mas, Galeano, em As veias abertas da América Latina, fala da bomba de Hiroshima. Lamentavelmente, 80 mil pessoas no Japão morreram por conta dessa bomba. Entre 1492, com a chegada de Colombo, e 1600, 56 milhões de índios morreram nas Américas, segundo a Universidade de Londres. Para Galeano, é como se por vários anos, uma bomba de Hiroshima explodisse na região.
Tais ‘bombas’ continuam explodindo. É só ver o estudo da ONU sobre homicídios. O Brasil lidera o ranking. Dos 458 mil homicídios no mundo, 10 por cento ocorrem aqui. A América Latina responde por 27%, é a região mais violenta do mundo. Falamos muito na Ucrânia e a Rússia e sobre Israel e Hamas. Mas, infelizmente, temos mais conflitos por aí. Congo, Mianmar, Iêmen, Etiópia, crises humanitárias silenciosas. Segundo a Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), 108,4 milhões de pessoas foram forçadas a migrar somente em 2022 por conta de conflitos. No Iêmen, 80% da população vive abaixo da linha da pobreza. Pessoas morrem de inanição.
Então, da próxima vez que você ouvir sobre ofensas, quem tem mais razão, quem está mais ofendido, lembre-se que há milhares de pessoas morrendo por palavrões que a esta altura não deveríamos mais pronunciar.
Vidas importam. Nada justifica tirá-las. Nada.