por Andréa Pontes
Lilian de Souza Cavalcante encontrou-se com Paulo Freire ainda adolescente. Durante o segundo ano do curso Normal, ela se deparou com o livro Conscientização – Teoria e Prática da Libertação. Chamou a atenção da jovem aluna como é que aquele educador conseguia alfabetizar por meio da palavra “tijolo”. Ela gravaria a informação e, anos mais tarde, isso faria a diferença na vida profissional.
Já no papel de educadora, em 2007, Lilian percebeu que era preciso estar junto com o aluno, para então ele entender o processo. Segundo Lilian, “a prática da educação (…) depende do coletivo e da consciência do seu contexto; do não olhar para si, mas olhar para o todo, olhar o grupo coletivo, o seu momento histórico, social e político. Olhar todo o contexto”.
E foi seguindo os passos de Paulo Freire, que Lilian se deparou com um aluno que não parava quieto. Chamou a mãe para entender tamanha ansiedade por andar de um lado para o outro. A explicação foi um soco no estômago. O menino e a mãe moravam na parte mais alta da comunidade. De um lado, um precipício, do outro, o chamado “micro-ondas” (onde há torturas praticadas pelos traficantes do local). A casa era feita de papel e papelão. E a mãe só lavava roupa uma vez por semana, quando ia à casa da patroa. O menino só queria ter o direito de brincar e encontrou na escola uma saída para ser livre. Educação é feita por linhas tortas e Lilian entendeu que tudo o que o menino não precisava era de limites. A vida já estava impondo uma série a ele e a mãe.
Foi também entendendo o que ocorria que Lilian percebeu que uma criança obrigava a outra a entregar um biscoito, por meio de agressões. Então, entrando no mundo delas, passou a ensinar que o bem coletivo é o bem maior, sem violência ou agressão. “Vocês podem se tornar cidadãos, vocês podem…”, declarou Lílian.
A educadora adverte que um professor pode ter 30 anos de experiência, mas nunca estará pronto. Cada turma vai ensinar uma direção. Porque, cada uma tem o próprio contexto. Ser educador no Brasil é lidar com a própria vida, como ela é (Nelson Rodrigues), entendo contextos e tendo a consciência de que entrar no mundo de alguém com respeito é fazer um País.
A entrevista completa pode ser conferida nesse link: https://drive.google.com/file/d/1HffLFGuLWdt7IBHDNAZwJ7UMtu8QQYpy/view
A parte 1 da entrevista aqui no blog