A gatinha miminha (o nome dela é Pati, mas como ela é chorona, miminha), que fará um ano em maio, é completamente apaixonada por Bolero, que está com vinte anos, só tem um dente na boca, não tem mais forças pra miar ou pra correr e só come comida de saquinho. Ela anda atrás, lambe a cara dele, obriga ele a deitar junto do encosto do sofá e deita na frente dele pra protegê-lo dos outros gatos. Na hora de comer, ela empurra o Bobo pra cozinha e fica sentada ao lado enquanto ele come, sem relar na comidinha. De noite, ela espera o Bobo ir pra caminha (ele dorme no banco do jipe do meu irmão que fica aqui no nosso micro-mini-quintal desde que caiu uma árvore no carro). Assim que Bolero se acomoda, ela sobre pela frente do jipe e vai dormir no teto do carro, porque gosta da brisa.
Velhas sem rumo falam de seus gatos, dores e máquinas de lavar pratos – tão idosas quanto elas, sem peça de reposição.
Salve-se.
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Eu queria tanto ser o Bobigóren e acabou que virei a mulher-pequinês.
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Sonhei com você três noites seguidas. Eu ia começar a falar de você como um “ele”, mas é meio ridículo. Se meu inconsciente pudesse carregar armas, ele me esfaquearia nas costas, tenho certeza.
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Há um livro novo em algum lugar (e isso é o BDD), mas não sei como chegar nele a não ser assim, por nesgas e beiradas. Há um livro em algum lugar, mas não consigo juntar as partes e não receita e isso é um negócio muito horrível.
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Chegar em casa e colocar milhares de roupas na máquina. Tomar advil como quem come balinhas. Gritar com os gatos imundos no sofá. É sempre o mesmo ano.
Sim, sempre o mesmo ano nos impedindo de ter nova vida, experiencias, viagens, amores. Talvez seja sempre a mesma vida. Como saber, se somos sempre a exata pessoa tentando fazer diferente as identicas coisas de todo dia? Salve Nietzsche!
Ah, queri, sim, somos sempre os mesmos. <3