EDITORIAL
Não estamos contentes, é fato, mas, ora, por que motivo haveríamos de nos entristecer? Os mares da história são turbulentos.
As intimidações e os conflitos, havemos de atravessá-los, parti-los ao meio, dividindo-os como uma quilha cortando as ondas.
Maiakóvski
Todo o tempo, todos os dias, dentro, fora, para o bem e para o mal, há uma transformação à espreita. Fato que odiamos. Ah, odiamos isso. A transformação veio para mudar o que somos e temos, para levar quem amamos, para mudar quem amamos, para colocar quem amamos falando coisas cruéis no WhatsApp. Há uma transformação à espreita, sempre. Tudo à nossa volta depende de transformação. A imobilidade só traz morte e desgraça, qualquer filme de zumbi ensina: quem não se mexe, morre. Nossas transformações foram muitas e muitas ao longo das eras. De sapinhos sem pernas (biólogos, chama-se licença poética isso aí) à Tamara Taylor com roupa de rendinha, tudo foi transformação. Nossos corpos e forma de locomoção. A maneira como fazíamos guerra, a maneira como fazemos guerra. Nossa arte, nossa comida. Nossos padrões estéticos, nossa forma de plantar e colher. Não deixa de ser interessante observar, somos os caras que mais dependem da transformação, somos quem mais a odeia. Odiamos que mude a consistência de nossa pele (saudade, colágeno), nossas crias, endereços, certezas, exigências. Não costumamos perdoar ídolos que mudam. Filhas que cortam o cabelo ou que menstruam fazem, às vezes, mães e pais chorarem (“Você mudou!”). A mudança nos encanta e apavora. Queremos que tudo mude e, ao mesmo tempo, que permaneça. Para que nós mesmos possamos permanecer.
A vida, que é uma sacana e tem outros planos, discorda.
Ela quer que deixemos de permanecer, o tempo todo. A vida clama por incerteza, impermanência e abandono.
Na tentativa de estar – para além de outras cositas – inventamos a arte. O nós que fica quando nos formos. Ou melhor, que esperamos que fique.
Há muito o que dizer sobre arte e sua produção nos próximos e próximos meses e, não se aflija, faremos o melhor que pudermos para cobrir todos os flancos. Mas tenha em mente: o motor da arte, de qualquer movimento artísticos e de todos os artistas, é a mudança, é a transformação.
Esteja atento. A mudança vem. Isso é inquestionável.
Como lidamos com ela, é o que iremos ver.
Não há arte sem mudança, nem mudança sem transformação.
Um abraço, estamos de volta.
Fal Mutante de Azevedo
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Aqui você sabe do que se trata e, sabendo, quem sabe decide fazer parte deste grupo maravilhoso:
Rue de Fleurus, 27
por Suzi Márcia Castelani
Quando a nudez se desvela
por Pedro Eloi Rech
Um hino, uma ordem, um caminho
por Beatriz Outiz
Tupi, or not Tupi
por Suzi Márcia Castelani
RÁDIO DROPS
Na Semana de 22, Villa-Lobos foi um dos compositores que teve obras interpretadas no palco (ao lado de Debussy e Satie). Villa reconhecia a força, mais ainda, a inevitabilidade da mudança e a abraçava com toda força que podia.
expediente
Editoras: Fal Vitiello de Azevedo e Suzi Márcia Castelani
Capa: Suzi Márcia Castelani
Colunistas: Fal Azevedo, Beatriz Ortis, Pedro Eloi Rech e Suzi Márcia Castelani