por Andréia Pontes
Fonte: CNN Rodoviária Novo Rio vive dia de caos
Paulo Sérgio Lima, de 29 anos, é morador da Rocinha. Ele cumpria regime semiaberto e tentava fugir para Juiz de Fora (MG). Deparou-se com Bruno Lima da Costa Soares, funcionário da Petrobras, na rodoviária Novo Rio. Bruno foi atingido por três tiros porque Paulo achou que ele era policial. Depois de três horas de negociação da polícia, os demais 17 passageiros do ônibus em direção a Minas Gerais foram liberados.
Já tivemos o 174, já tivemos atirador de elite e governador descendo de helicóptero na Ponte Rio-Niterói e, recentemente, um outro ônibus da rodoviária sequestrado por bandidos.Não cabe aqui uma análise da segurança pública do Rio de Janeiro aprofundada, porque precisaríamos de muitas colunas. O que podemos dizer: são décadas de contribuições para o aumento da criminalidade na cidade maravilhosa. É também uma questão nacional, o que inclui o sistema carcerário, mas o Rio tem peculiaridades – milícia, polícia e tráfico em confronto, entre outras camadas de ampla desigualdade e seis governadores presos por envolvimento em corrupção. “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus” não são apenas filmes e todo carioca sabe disso há muitos anos.
No mesmo dia, a empresa onde Bruno trabalha obteve 3% de aumento nas ações. Há um burburinho, porque, na véspera, a queda das ações da Petrobras era de 10%. A causa: distribuição de dividendos, quando a empresa partilha parte dos lucros com os acionistas. Importante lembrar que a distribuição de dividendos foi intensa em anos anteriores. Entre mal-entendidos entre Governo, companhia e acionistas, ora os investidores considerando distribuição, ora não, a montanha-russa na Bolsa de Valores foi inevitável.
Nessa hora, o mercado conjuga o verbo especular. Há quem ganhe muito com isso. E então surgem os boatos de que o CEO da empresa, Jean Paul Prates, pode cair. Que há pressão de Ministérios. No final de tudo, o CEO Prates permanece, o Governo diz que há espaço para distribuir dividendos ainda esse ano e as ações sobem.
Entender as entrelinhas e analisar o noticiário e o mercado são o puro suco do cotidiano do País. No caso, é fundamental estar de olho nos pares da Petrobras. Sim, ExxonMobil, Chevron, Exxon, Shell, BP. A Petrobras pagou mais aos investidores do que as demais petrolíferas. Em 2023, a companhia subiu os investimentos, 29% acima em relação a 2022. Moral da história: é sabido que há um plano de crescimento. E nunca podemos nos esquecer – o mercado sempre quer mais. O Governo atual tenta equilibrar esses ganhos e já há discussões de conselhos diversos e rotativos. Ler e entender as notícias é um dos caminhos para compreender a política econômica brasileira. O outro é a Educação e uma Economia mais igualitária. Não basta o acesso à informação. É preciso saber o que se faz com ela.
Para quem torce o nariz, é bom se conscientizar de que ações que você nem dispõe na Bolsa de Valores afetam o seu bolso e a sua vida cidadã. Ao falar de Petrobras, por exemplo, falamos de preços do gás, da gasolina, do diesel, impactos no frete, preços mais altos no supermercado, influência no índice inflacionário, no custo de vida. Sim, há política econômica em todas as instâncias e em todos os lugares, até onde juramos que ela não existe. É como as coisas se organizam. Desculpe te contar isso, mas essa verdade ajuda a tomarmos melhores decisões em casa e, como consequência, pelo País.
Vejamos os personagens de hoje: Bruno, morador de Juiz de Fora, queria melhorar de vida, ao entrar via concurso na Petrobras. Paulo Sérgio queria também, em fuga da facção da qual pertencia. Em meio às desigualdades sociais, educacionais, de saúde e econômicas seculares, essas duas vidas se cruzaram. Paulo, agora, vai para a prisão. Bruno está em uma batalha inglória pela vida.
Perdas que precisamos entender que são problema nosso.