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Pedra bruta: As mulheres olímpicas que habitam em nós

por Andréa Pontes

Bia vence a francesa Romane em plena Paris — foto de Luis Robayo — AFP

Rebeca, Flavinha, Bia. Ah, mas por que ficar repetindo isso? Nunca é demais. Se olharmos para séculos de desigualdade de gênero e de raça, tá é pouco.

Rebeca Andrade, mulher, preta, brasileira. Filha de outra brasileira. Irmã de sete irmãos. Mal tinha dinheiro para o uniforme, quanto mais ir às aulas de ginástica olímpica. Empoderou-se, aos nove anos, mergulhou de cabeça, de corpo, de alma. Tá aí, atrás de outra mulher preta, dos EUA, Simone Bailes. Que ensinou ao mundo que tem hora que é de parar. Foi cuidar da saúde mental.

As duas se abraçaram. Não é fácil a jornada. Elas sabem muito bem disso.

Flavinha Saraiva. Cortou o supercílio. Caiu na apresentação. Continuou. Está entre as 10 melhores do mundo. Vamos lembrar, importante: estamos em um País que não tem investimentos adequados no Esporte. Estamos na casa dos milhões de reais; os EUA, na casa dos bilhões de dólares. Fique bem registrado isso, para quem mistura mérito com meritocracia. Há uma enorme e abissal diferença entre ter apoio e vencer e não ter apoio e vencer. E não, não é para restringir à história de superação. Vai além.

Rebeca, Flavinha, Bailes, Bia. Elas representam Márcias, Reginas, Elizabeths, Ana Claudias, Vitórias, Izas, Maísas, Ricardinas, Lídias, Marlis, Léas, Fernandas, Marias. Muitas e muitas mulheres. No Brasil, é bom repetir, 50% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. No Brasil, há muitas mulheres levantando-se cedo, trabalhando por salários mais baixos do que os homens. Sofrendo violência de todas as ordens.

Use a sexta-feira, obviamente, para sextar. Mas, reflita e pense nas mulheres da sua família. Pense ou imagine o que elas passam ou passaram. Nem tudo é uma ciência exata — sabemos — mas pelo menos uma aí na sua árvore genealógica precisou atravessar oceanos ou foi escravizada, ou ficou viúva jovem por conta de guerras. Ou, simplesmente, acorda todos os dias e segura a família com sorrisos, abraços, ouvido e respeito.

São muitas em uma. É uma em muitas.

Nem sempre com medalhas ou pódios. Por isso, a cada Bia, a cada Rebeca, a cada Flávia que sobe em um pódio, há todas nós.

1 comentário em “Pedra bruta: As mulheres olímpicas que habitam em nós”

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