A cozinha, ao que tudo indica, é possível. Você não está aqui. Você nunca virá. E eu arrumo meus amados livros de comida para você. E os intercalo com azeites bonitos e acendo velinhas. Uma prateleira para a cafeteira, outra para as maquininhas. Como se você fosse usar qualquer uma dessas coisas, como se você se importasse. As menores tarefas, eu as dedico a você. Mandei umas fotos e me senti uma mendiga e ridícula. Os comentários me fizerem perceber que, sim, sou ambas as coisas (seus comentários são excelentes, sempre me trazem para a realidade patética da minha situação). Fim das fotos, prometi a mim mesma e a você (em silêncio). Mas continuo, nesse movimento camicase, a arrumar para você. Para seus olhos. Se você me for tirado, a ideia irreal e totalmente insana de você, volto à posição fetal, à apatia, ao nada fazer. Depois que estiver tudo arrumado e funcionando, perco você de novo e de novo e de novo. Agora, porém, preciso de você, deste não-você-irreal-que-sabemos-jamais-será-meu, para me manter colocando a cozinha no lugar.
This too shall pass, a minha blogueira favorita de todos os tempos me faz lembrar. Ela é a melhor dona-de-casa do mundo e, totalmente alheia à sua existência, arruma e limpa e empilha e organiza, tudo com gergelim, ovo de gema mole, amaciante e algodão cru, sem dar a mínima se você vive ou morre, tem alergia, odeia o papel de parede ou arrumou as peças novas para o fogão velho. Ela é linda, jovem, tem a pele boa e um filhinho maravilhoso – e para ela, você não existe. Para você, eu não existo. Invejo minha blogueira favorita todo o tempo.