por Andréa Pontes
Casa do Alemão, de um tempo que se deixa levar
Três meses com dores diárias. A torção, as rupturas, os edemas e seus efeitos. Caminhos com pedrinhas, ranhuras, que me obriga a parar. Descobre-se uma infinidade de caminhos da fisioterapia. A acupuntura e a eletricidade se misturam. “A fisioterapia, senão aprofundada, não vai ao fundo do problema”, explica-me a profissional, uma espécie de gênio precoce. Tão nova e já tão experiente. Afinal, experiência não necessariamente vem com o tempo. Como diz a nossa Ministra Carmen Lúcia, há os já não tão novos que escolhem a desinteligência. Há elegância até na burrice.
Enfim, parar serve para repensar e recalcular rotas. O ato de despejar as roupas que não usamos mais às vítimas do Rio Grande do Sul é também um exercício de abandonar o que não nos serve – pode servir a outros, por que não? No caso da solidariedade, sim. No caso das dores do passado, daqueles fantasmas que você sabe como ninguém como te perturbam, dei ar ir é mandatório. Não há tempo a ser perdido.
Ontem, chegou das mãos da Fe um presente. A história da canção Let it be (deixe acontecer), dos Beatles, contada por sir Paul McCartney. Não farei melhor do que ele, mas resumo aqui para quem não quiser clicar no link. Na década de 1960, ele sonhou com a mãe, já falecida. E ela dizia a ele que tudo ficaria bem. Let it be – disse ela em sonho ao filho. O nome da mãe: Mary (Maria). Assim, nasceram os versos. Quando me encontro em momentos difíceis, a mãe Maria vem até mim, dizendo palavras de sabedoria – deixe estar (When I find myself in times of troube, Mother Mary comes to me, Speaking words of wisdom, Let it be).
Assim, roupas, casas, amizades, amores, tudo se vai. E volta. E vai. E a gente deixa, ao samba do grupo Revelação, interligado sem querer, ‘acontecer, naturalmente’.