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Aqui: amarrar a camiseta na cabeça e andar pela casa só de sutiã

No mais das vezes, falo aqui sozinha. Não pense que estou reclamando porque não estou. Zero comentário, zero referência, os dois ou três que leem, fingem que não, o que dá uma confortável certeza de que posso vir aqui, abrir todas as janelas, amarrar a camiseta na cabeça e andar pela casa só de sutiã.

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Um amigo, amigo mesmo – não o que o meu finado marido chamava de “amizade de internet” – fica mal e não busca por nós. Ele nos conta o que aconteceu depois, quando tudo melhora. Para além do primeiro pensamento, alívio e alegria por ele estar bem, tento evitar o segundo, que é mágoa por ele não ter me procurado. Cada vez mais, mais pessoas precisam menos de mim. Um pedaço disso vamos colocar na conta de que, sim, ando insuportável. Um pedaço disso, um grande pedaço disso, vamos colocar na conta de que eu realmente não tenho como ajudar quem quer que seja, a minha inutilidade chegou aos píncaros da glória. Mas a maior parte disso nós vamos colocar na conta do: ninguém tem de nos querer. Ninguém. Não tem pedaço nenhum no contrato dizendo que a pessoa tem de nos amar, procurar por nós no susto, na dor, na tristeza da madrugada. Haverei de aprender a me comportar com amigos como me comporto com leitores. Se o cara se justifica (sem ninguém ter perguntado, porque eu jamais pergunto) não ter comprado o livro por falta de grana e aparece no tutíter tomando bitináites com os migos, não me cabe pensar “ué”. Não sou a gerente do banco do cara. Não sou a coach de organização dele “se você não tem tempo de me ler, meu blog está largado, como é que você tem tempo de ver tanto jogo de futebol”. Desse fantasma do imenso e mal-controlado (no mais das vezes quase o tempo todo) ego-bebê-gigante do escritor eu me livrei faz muitos anos.  

Agora, além de perdoar o homem que não me ama por não me amar (perdoar dentro do meu coração na esperança de, um dia, voltar a ser felizinha, porque na real ele não precisa do meu perdão para nada na vida dele), preciso aceitar que minha amiga não me quer nas crises. Bem, não em todas as crises. Isso talvez fale mais de mim do que dela. Talvez seja só um imenso é isso aí. Talvez eu tenha me tornado uma pessoa não confiável nas crises. Enfim, em breve, descobriremos. Enquanto isso: deixar para lá e seguir, a arte das artes.

Sim, estou falando aqui, para o vento, elaborando e elaborando. A sessão de ontem foi praticamente só isso. A de terça-feira deve ser isso também.

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O papa e eu tamos com dor no joelho. A diferença é que ele anda apoiado num velhinho que despenca de charme e eu ando xingando mesmo.

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Abri um chileno bastante honesto e quero crer que, depois de três taças, sou uma pessoa boa e gentil. Se eu comprei chilenos porque D. me disse que gosta de chilenos? Mas é claro. Com quem você pensa estar falando?

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Talvez o frio nos alcance. Não percamos a fé. (tá um calor nojento)

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Nem arroz, nem macarrão e nem aveia (que como, muito feliz): couscous. Sou uma mulher de couscous. Acabo de fazer um imbatível, com castanhas, acompanhado de linguiça alemã num lindo molho de tomate (pelo qual sou responsável, fiz do zero) e uma maravilhosa salada de tomatinhos e cebola. Com chá gelado. Queria ter alguém pra contar isso: meu bem, fiz um couscous lindo. A coisa que mais sinto falta na vida é esse partilhar do cotidiano miudinho. Não posso ficar mandando relatório das minhas refeições pros amigos, eu já chateio demais os outros com a minha carência. Então, de novo, volto aqui, com a camiseta amarrada na cabeça. <3

Meu bem, fiz um couscous lindo.

10 comentários em “Aqui: amarrar a camiseta na cabeça e andar pela casa só de sutiã”

  1. Isso de elaborar e elaborar é fantástico na mesma medida que é dolorido. Hoje cedo tive uma epifania e estou elaborando aqui, falando contigo antes mesmo de abrir o diário pra escrever detalhadamente a elaboração. Meu deus, como a gente é tonto, sabe? hahahahaha. Toda sessão é um sacode (às vezes o sacode vem depois, pq eu sou lenta, “aaaaaah, então era DISSO que se tratava tudo”, e fica com cara de caneca o resto do dia). Enfim, couscous é um algo divino mesmo, e o que vc fez, com o molho from scratch, deve ter ficado de outro mundo. Bjo bjo.

  2. às vezes a gente só não consegue contar pra alguém. não é que a gente não precise da pessoa, a gente não sabe como precisar. eu, por exemplo, tenho vergonha. quero que percebam, mas não quero que saibam – sei lá explicar. entro no meu casulo, casca dura, só ozoinho de fora.

  3. Falzita, fiquei com inveja dos seus vinhos chilenos. Aqui, o penúltimo já tá no final, só resta um. Queria poder ir te visitar e conversar besteira e tomar vinho e comer queijinhos ou, quem sabe, couscous com linguiça e molho from scratch.
    O miudinho é foda. O miudinho é que dá sentido a todo dia, e acho q explica. Casais do miudinho são os melhores. Amigos do miudinho, pra quem a gente pode contar qualquer negócio e que se alegram com a gente sem achar que não é nada demais. Faz os olhos da gente brilhar, aí é. Não sei por quê, lembrei da cena da Romana catando feijão em “Eles não usam black-tie”. Acho que talvez seja a cena de que mais gosto. Uma cena miudinha.

  4. Devia colocar foto do couscous. Gosto de foto de comida, videozinho de preparo de comida, é uma coisa bestificante como paro para ver essas coisas nos feeds da vida.

  5. Querida Fal,

    Você não está falando para o vento… você fala pra mim, e você nem desconfia que eu existo. Fico aqui lendo tudo escondidinho, te amando, te admirando, e te invejando porque eu queria saber sentir e escrever assim. Uma pessoa como você, aqui nessa loucura de internet, é a esperança que tenho de que nem tudo está perdido! Te acompanho desde sempre, desde o Alexandre, até antes dele. Da época em que eu acompanhava as novelas junto com você. Tenho saudade daquela época… Beijos carinhosos!

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