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A semana: aqui e agora

por Andréa Pontes

O mundo – foto de A.P.

Uma coisa é certa. Aqui no Brasil, não há tédio. Uma hora estamos falando de apreensões de anabolizantes pela Polícia Federal; no outro, guerra entre policiais, traficantes, bombas em ônibus.  No minuto seguinte, estamos discutindo a separação de casais famosos.  A vida, no Brasil, é quando você aperta o botão de velocidade máxima e não há como depois parar.

O fato é que os brasileiros estão colocando mais itens no carrinho. Pesquisando, garimpando, como sempre. A conta do supermercado está menos pesada ao bolso. No entanto, temos questões climáticas – sempre elas. Não é só ir de 36 a 13 graus Celsius em um único dia. Isso tem a ver com seca em lugares como a Amazônia. A Terra está voltando a discutir a relação com a humanidade. E ainda há quem não se dê conta disso. Todos buscando ser felizes das mais diversas formas. A maioria delas, distante do bem comum. Será mesmo a maioria ou nós que nos concentramos no que não é bom?

Segunda-feira, na Sala São Paulo, ouvi do maestro e diretor artístico do Instituto Bacarelli, Edilson Venturelli, que enquanto há uma notícia de coisas ruins, há centenas de pessoas produzindo coisas boas – só que não noticiadas. Ele tem razão. Ali, naquela noite, uma garotinha de cinco anos de idade, Lisa, contava a 500 pessoas que vencera um câncer – retinoblastoma (nos olhos) detectado nos primeiros meses de vida. Certamente, há outras garotinhas, outras centenas de pessoas empenhadas no bem.

Essa tal felicidade que todo mundo busca, concluo que é o caminho, mesmo – se alguém já alcançou o pote de ouro ao final do arco-íris, depois me conte. É o que posso dizer por experiência – são pequenos instantes do trajeto. “Quando uma mãe, que tem dois empregos, consegue levar o filho ao futebol, isso é um milagre”, disse o personagem de Morgan Freeman em O Todo Poderoso. Eu concordo. Ouvir Tony Gordon na segunda à noite, junto à Orquestra de Heliópolis e Simoninha, é um milagre. Descobrir que não dá mais para agradar todo mundo. Outro milagre. Receber um telefonema inesperado positivo. Receber uma mensagem que te mostra que você está no caminho certo. Poder ajudar os amigos. Ter um tempo, por mais curto que pareça aos outros, para ouvir sobre Deus. Conhecer uma referência que me ajuda em estratégias para lidar com a demência. Ter uma editora amiga que te estimula a escrever mais e ainda publica na própria página um texto seu. Tomar aquele banho gelado no dia quente. E, no seguinte, um quentinho na noite fria.

O fato é que eu parei. Parar é tão bom. Concentrar-se no momento. Não achar mais bonito escrever uma mensagem enquanto está em uma conferência eletrônica. Parar e olhar a si mesma. Ao outro. Ter foco. Quantas vezes eu conversei com outras pessoas olhando as mensagens do meu aparelho celular? Ainda posso me pegar fazendo isso. Talvez, hoje, dar atenção genuína seja um diferencial. Deveria ser tão normal…

É, gente, achamos que somos jovens eternos. Se tivéssemos consciência de que envelhecemos no minuto que damos o primeiro respiro aqui no planeta, a gente se prepararia melhor. Foi o que aprendi nessa semana, na divulgação da pesquisa do Coletivo Weber Shandwick, que mostra que as mulheres têm duas vezes mais chances de se sofrerem com o Alzheimer. Até 2050, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer, mais de cinco milhões de brasileiros terão o transtorno degenerativo. Parar e olhar para as pessoas ao nosso redor – se estão se cuidando. Parar e olhar a si mesmo (a) e se cuidar. A Claudia Alves cuida da mãe, de 87 anos, a Francisquinha. Além de cuidar, generosamente divide os aprendizados com milhares de seguidores. Eu sou uma delas. Tive avó, tenho mãe e filho que demandaram e demandam cuidar.

Por isso e por muito mais é que cada instante precisa ter o carinho que se deve.

Leveza, sem esperar a tal felicidade completa e irrestrita. Curtir a felicidade que se tem.

Aqui e agora.

1 comentário em “A semana: aqui e agora”

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