por Andréa Pontes
casa de mãe
O corpo reclama. É o pé, é a coluna. É o fim do caminho. Ou o recomeço. Quem sabe. O tal eterno retorno que Nietzsche fala. Os retornos nem sempre chegam ou nem sempre percebemos. O que importa é a vida aqui dentro, a que ninguém tira de nós. A consciência, na verdade, é o que a gente leva. O que a gente vive externamente é passageiro demais, cruel demais, alegre e apaixonante demais.
Cada um dá o que tem. Em uma tragédia, uma força não sei de onde vem e leva pessoas a ajudarem outras. É o resgate do cavalo – caramelo, óbvio. É a senhora que beija todos os que a salvaram. Há pessoas que, no entanto, têm maldade de sobra. Fake News, golpes, estupros e roubos também são praticados. Tragédias climáticas e da vida. Que nos levam, ainda mais, a voltar ao básico. A solidariedade, a compaixão, a gentileza – o básico, em um novo normal onde a canalhice transborda.
As mães gaúchas são a referência para todas as mães do mundo. Acolher os filhos quando não se tem nada. Acolher a própria dor por perder filhos, marido, pai. A alegria da sobrevivência e o luto, juntos e misturados. A energia de tirar a última gota de esperança e, mesmo aos farrapos, dizer para os seus que vai ficar tudo bem. Assim são as mães. Das que não queriam, das que queriam desde sempre, das que foram apresentadas à deficiência – e, de cara, ao preconceito e à exclusão. Das que tratam seus pets como filhos – e tá tudo bem, porque eles só faltam falar. Ou podem até falar, só a gente que não compreende.
Temos as que ninguém fala sobre. As que tiveram as gestações interrompidas. As que não viram seus filhos serem levados e não sabem o paradeiro deles. As excluídas. As incompreendidas. As lutadoras. As que tiveram que encarar a maternidade na marra. As medrosas. As humanas. As causas de todos os divãs e traumas.
A todas elas, sororidade além do papel. Taí um universo que ou sente na pele ou nem venha tentar interpretar o que significa.
Ainda pulsa. A música O pulso, dos Titãs, não é lá a mais brilhante da prateleira para o almoço de domingo. Então, sugestionada pelo programa de tevê matinal, fique, para o Dia das Mães, com Força estranha, com a eterna Gal.
Porque mães, as reais, as raízes, vão muito além das propagandas de sorrisos e presentes. Elas pulsam. E continuam a cantar.
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O Drops indica, para além das versões da querida Andréa, mais essas duas aqui: