A cada temporada e meia me aparece uma sumidade afirmando que que não, não devemos sofrer por amor, que amar é desapegar, deixar fluir e criar o bicho solto (opa). Você, não sei, mas eu sofro por amor e quem paga o pato é a adega do meu velho e saudoso pai.
Ah, vá, sofremos, sim, por amor. Escorremos pela parede do box e choramos debaixo da água morninha. Sofremos por amor quando queremos alguém que não nos quer. Quando alguém nos quer e, por nada desse mundo, conseguimos amar de volta. Quando alguém nos quer, mas também quer outra pessoa. Quando nós queremos alguém e precisamos voltar para casa. Sofremos e sofremos e sofremos por amor de todas as formas, porque sim.
Eu estava pensando aqui: poucas vezes o sofrimento por amor é mais devastador do que aqueles minutos em que assistimos o objeto de nosso amor se vestir, sabendo que não há volta. Uma perna na calça jeans, depois a outra, cada botão da camisa dentro da casinha certa, pés definitivamente enfiados nos sapatos e você sentada no meio da cama, abraçando o edredom e fazendo o possível para não chorar. Em vez de falar sobre o tempo, a defesa do Guarani ou declamar um versículo da Bíblia, a criatura inconsciente faz o quê? Canta que só louco amou como ele amou. Sério, seu puto? É sério que você vai cantar isso enquanto sai da nossa vida? Sofrer por amor é sempre ruim, doloroso, humilhante e patético, mas esses poucos instantes que transformam o cretino nu num fariseu vestido, que dará um beijo na minha testa para, em seguida, bater a porta é, de longe, o mais doloroso dos momentos. Depois que ele saiu eu me levantei e entrei no chuveiro ouvindo o som de vidro estilhaçado sacudindo dentro do meu peito.
Ah, insensato coração. Por que me fizeste sofrer.