por Andréa Pontes
Um café da manhã desses em uma segunda-feira não quer briga com ninguém (foto de Andréa Pontes)
É impressionante uma segunda-feira começar sem ressaca do noticiário. O futebol, a alegria de milhares brasileiros, foi palco de pancadaria. Nos jogos Santos x Corinthians e Vasco x Goiás, torcedores atiraram fogos de artifício na direção de jogadores. Em outro momento, o time do Corinthians foi impedido de sair do ônibus por ameaças de “torcedores”. Os times perderam o chamado mando de jogo e o que vimos foi um patético Santos x Flamengo em uma Vila Belmiro sem plateia. Já no estádio da Portuguesa, a “Lusinha carioca”, arquibancadas vazias. Espetáculos deprimentes – e nem estamos falando do desempenho dos times – que não foram aquela Coca-Cola. O que faz um ser humano sentir-se no direito de apontar o dedo e ameaçar a segurança física de outro ser humano por causa do futebol? Vale a reflexão, pois é o mesmo motivo que faz mulheres serem agredidas, adolescentes serem atraídas por aplicativos e sofrerem violências absurdas. Ou de disparar tiros durante uma briga de trânsito. É se considerar no direito de. No caso, de ser um animal irracional.
Essa turma sem controle está entre nós. Em um mundo sem controle algum. Em que pessoas desembolsam mais de R$ 1 milhão para andarem em um submarino considerado inseguro pelas autoridades. Em que vemos a Rússia envolvida com mercenários. Ah, e se você ficou com medo, pare, respire, e conclua que está no Brasil. Milícia, por exemplo, já não é novidade por aqui. O que também não muda é a política econômica. Números deviam ser números, mas a taxa Selic não baixa porque há pressões empresariais e governamentais. A promessa é que com o fato inegável de baixa da inflação, finalmente, essa taxa deve ceder – com ajuda de novas composições no grupo do Copom. Quem sabe, as compras do mercado ficam mais em conta. Quem sabe uma suavizada em um caminho global longo, com peculiares efeitos aqui na América Latina.
Nesse meio tempo, o vôlei brasileiro dá um show. Tão bom ver a seleção masculina ganhar da campeã França. Assim como ver a superação da Thaisa, voltando de uma lesão, e fazendo o time feminino lutar ponto a ponto na quadra de Brasília. A nossa fadinha Rayssa Leal ficando em quarto lugar, mesmo sentindo dores após uma queda feia em Roma, no Pro Tur de Skate. A atitude de jogadores do Vasco em presentear com camisas do time o torcedor Guilherme, oito anos, portador da rara epidermolise bolhosa, em coma por dezesseis dias, fizeram essa torcedora do Flamengo (eu sei, as atitudes do rubro-negro nem sempre me fazem feliz) marejarem os olhos. Isso, sim, é futebol.
O que fazemos com os números? Aguardamos. Com as atitudes animalescas? Flores. Naturais, por favor. Um crisântemo (manchado pelos brasileiros por “flor de cemitério”, embora flor nobre no Japão) que seja faz a diferença na vida de alguém. Um “muito obrigada”, um “por favor”. Simplicidade. São essas coisas que mudam o mundo. O semblante. O humor. O técnico português Luís Castro, do líder inquestionável Botafogo, disse bem: “vocês querem construir uma casa pelo telhado, é preciso começar pelas bases”. É preciso dar bom dia, arrumar a cama, dar a vez para os mais velhos passarem, tocar a terra do vaso para então regar. Isso, sim, é viver. E começar uma semana como se deve.
Meu Galão da Massa perdeu de 2×0 para o Fortaleza, mas pelo menos não teve selvageria. Feliz daquela que tem uma torcida, a Galoucura, que consegue furar barreira de bozoasnos para chegar no jogo a tempo! E sem um tiro!
Sim, crisântemos são muito lindos! E convenhamos, nenhuma flor é da morte, ao contrário! Elas anunciam a vida, pois é onde as sementes são gestadas!
Excelente reflexão! Muito obrigada! Seu texto me fez lembrar a música da Luciana Mello:
“Coisas fáceis, mostrar o caminho
Coisas fáceis, dizer a verdade
Coisas fáceis, cuidar com carinho
Coisas fáceis, viver com vontade
São coisas pra se fazer
Sem esperar recompensa
São coisas pra se querer
Coisas tão simples
E tão difíceis de esquecer”
Que nosso coração esteja aberto para essas pequenas mudanças que fazem toda a diferença.