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Perdemos, perdemos todos. Perdemos tanto. Perdemos sempre. Perdemos o rumo, os ideais, as ideias, o fôlego. Perdemos o fio da história. Perdemos a vergonha, perdemos o medo, a caneta favorita, o papelzinho com o telefone do contador. Perdemos. Perdemos. Cada perda tão imensa. Cada perda um oceano. Cada perda, dizem os otimistas, é uma escola. Vamos aprender com as perdas dizem eles, odiáveis. Mas ninguém nos conta, bem, ninguém me contou: nem toda perda ensina. Ou edifica. Ou é um novo começo, Fal, vamos lá, sorria, confie. Perdemos e dói. Perdemos e doemos. Um amor, porque amores são perdidos, lembre-se disso. Uma promessa de amizade que durou alguns meses. Um trabalho, que parecia ser a coisa mais legal. Um projeto que nos foi tomado. A bola que caiu no quintal da vizinha. Um gatinho fujão. Uma oportunidade que, não, não voltará. Hoje nós, todos nós, perdemos quatro bebês. Mas morrem bebês todos os dias, Fal dirá você, com razão. Sim, morrem bebês todos os dias. Eu mesma já perdi um meu. Você, provavelmente, também. Os bebês morrem por motivos vários, bebês são perdidos, bebês são assassinados como foram hoje ou adoecem ou… Os bebês morrem. Perdemos quatro hoje, pelo menos. A perda, em se tratando de bebês, é sempre coletiva. Conjugue, sempre, com o nós. Nós perdemos. Nossa perda. Nada, nessa perda, nada em qualquer perda, de qualquer bebê, nos edifica, consola, prepara para um futuro brilhante. Este foi mais um dia de perda que não, não abre caminho para coisas melhores. Foi começo, meio e fim uma imensa perda. Perdemos.
2023 04 05

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