Conheci um homem chamado Sérgio que foi bem mau comigo.
Eu tinha uns vinte e cinco, talvez vinte seis anos.
Em dois encontros ele deu conta de chamar minha casa de esquisita, de me chamar de feia, de me chamar de estranha e de dizer que, o máximo que eu poderia almejar na vida, era ter gostadas as coisas que escrevia. Ele disse que eu jamais seria gostada.
Nunca trepamos, claro, quem treparia com alguém como eu, nunca mais nos vimos.
Não me lembro do sobrenome dele e nem como nos conhecemos. Não me lembro do rosto dele. Na verdade, não pensava no Sérgio há mais de vinte e cinco anos.
Mas ontem me lembrei exatamente do lugar em que ele estava sentado em nosso hiperestofado sofá amarelo e azul, na imensa sala da casa da rua Itápolis, quando me disse que talvez, talvez o que eu viesse a escrever na vida pudesse merecer alguma espécie de atenção. Até carinho.
Eu, nunca.
Ele disse em voz alta algo que eu sempre intuí. Não foi um vaticínio, hoje sei disso, foi só uma constatação, preciso corrigir o título ali de cima.
O dia de ontem nem precisava ter acontecido para que eu, novamente, fosse lembrada disso.
Mas aconteceu.
Não vou falar do que falou o Sérgio. Mesmo que seja um recurso literário, ele é execrável. Tosco. Vou falar apenas que eu amo como você consegue colocar nomes completamente coerentes, reais, nos personagens dos seus textos que tornam todos eles – personagens – palpáveis, reconhecíveis, como se eu tivesse cruzado justamente com esse Sérgio em um jantarzinho na casa de uma amiga, na fila pra comprar entrada no teatro, em um coffe break de evento.
Oi minha bela. <3