Comprei cogumelos.
Dito assim parece que uma pessoal normal comprou cogumelos normais dum jeito normal.
Aqueles que têm a infelicidade de me conhecer, porém, sabem: uma pessoa anormal comprou cogumelos normais dum jeito anormal.
Entonces, comprei dois quilos de cogumelos.
Fabia, minha bela, mas aí não vivem apenas você e a sua mamãe?
Veja você, é isso mesmo.
Acontece que comprei dois quilos dos cogumelos mais lindos do Brasil.
Amo demais, erro demais, falo demais, confio demais, acredito que o-outro-não-faria-comigo-o-que-eu-jamais-faria-com-ele demais e compro cogumelos demais.
É pegar ou largar.
Não se preocupe: todo mundo larga.
Enfim.
Um quilo de paris, um quilos de shitake.
Omelete de cogumelos, pasta de cogumelos para o sanduíche e para o macarrão (um ravioli artesanal que a polícia deve apreender o mais rápido possível porque aquilo se não é pecado mortal é crime, puro e simples), creme de cogumelos com marisco (infernal de bom), espaguete ao sugo com cogumelo, fritada de cogumelos com queijo estepe, cogumelos acebolados para acompanhar o arroz e, claro, salada de repolho, cogumelo e tesão (recomendo mais o cogumelo e o repolho, menos o tesão, mas essa história pertence a outro livro).
Quase tudo com vinho rose. Acho que tudo com rose.
Talvez eu tenha dançado sozinha na cozinha algumas vezes. Posso ter chorado um pouco aqui e ali me sentindo tremendamente só. Quase certamente falei sozinha durante o preparo de cada prato.
A vida, diria a bela Andrea Kogan, é isso.
A minha, pelo menos.
Comprou muito bem, 2kg de cogumelo eu como em, sei lá, dois dias. Se tiver queijo de cabra em casa, pra ornar, nem sei se dura tudo isso. Desejei tudo, especialmente o creme de marisco. Sabe, eu danço na cozinha, mas acho que nunca falei sozinha. Tenho um pudor inexplicável. No auge da pandemia, passei dias e dias sem ouvir a minha própria voz. Quase esqueci dela. Certamente esqueci de mim. Hoje fiz uma coisa com repolho, ficou muito melhor que o resto do dia. Resolvi ler um livro do véi europeu que morreu, mas ainda não lembrei onde deixei meu cérebro. Deu vontade de seguir escrevendo em associação livre, mas não se preocupe, tô com os remedinhos em dia, vou segurar a onda. Te amo, obrigada por escrever.
Nossa. Faço palestras para os abacates, discuto a vida com a couve-flor. <3
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