Você pode, claro, chegar nalguém e perguntar “mas por que você não fala mais comigo?”. Saiba, porém, não adianta. A pessoa fala se e quando quiser. Ao que tudo indica ela não quer. Ele não quer. Se não faz diferença, siga. Se faz, bloqueia o cara em todo canto assim, pelo menos, você não precisa ficar lendo o nome dele por aí, quer me parecer que a dor fica menor. De novo, porém: não faz diferença. Não fará diferença.
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Tenho cozinhado. Aqui, ali, coisas tolas, caldos, tortas, ovinhos. Tenho pensado demais no que se pode, ou não, escaldar, misturar, emulsificar, grelhar. Mas não sei mais como conjurar a energia d’outrora para picar e enfarinhar, salgar, desossar, empratar. Tudo, tudo mesmo, penso aqui, dá tanto trabalho. Para que, exatamente?
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Que tremenda burra eu sou. Que tempo perdido, que imbecil.
Eu orgulhosa de mim mesma, dei o que eu supus ser uma imensa patada. A pessoa achou que era um afago e me tratou com a displicência condescendente de sempre. Eu fico cantarolando: a dor é minha, em mim doeu, a culpa é sua, o livro é meu (porque um dia virá, né, ah, virá)
displicência condescendente, que termo perfeito. é isso.se fosse ao vivo a minha análise, na hora do “mas Fabia, vc achou que a sua dor alcançaria alguma nota nalguém que já provou, inúmeras vezes, que não quer saber como vc vai?” e eu respondi “sim”, ele teria me dado um tapa na testa. a gente canta e escreve livro, amor. dessas vez, para nós mesmas.