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Há quase cinco anos

por Andrea Pontes Natal

Desde 2017, o The Economist, a revista global do mercado, diz que dados são o novo petróleo. Quem tem acesso à informação e sabe o que fazer com ela tem vantagem  – desde índices na Bolsa de Valores até  se vai chover amanhã.

Você pode não querer – e tentar – não ter contato com o mundo. Respeito sua decisão porque a vida não anda fácil.  Nem o eremita  Zaratustra, de Nietzsche, que saiu da aldeia em que vivia e ficou dez anos nas montanhas suportou ficar isolado.

Da informação não há como escapar. Mal abrimos os olhos e lá está ela. Não planejamos ficar sabendo da gravidez da celebridade que nem acompanhamos ou como ficou o índice do IPCA do período. Mas, afinal, decidimos sobre o que nos informar. Até a página dois. Porque há os que decidem o que você vai ler.

Complicado? Repare em como fazemos parte disso. A todo instante, sites, tevês e rádios nos convidam a mandar áudios sobre como está o trânsito, fotos do buraco da rua, mostrar como as chuvas afetaram o nosso bairro ou compartilhar o vídeo daquele gato agitado com a música de Beethoven ao fundo.  Cada um de nós faz a notícia. Aliás, já deu uma olhada no seu aparelho celular? Pois é, ele até telefona. Mas, não é só isso. Ele filma, fotografa, grava, dá acesso às redes sociais e ao banco. Você, que está em uma bolha,  produz conteúdo com suas opiniões no Twitter, suas fotos no Instagram. Há gente que tem mais audiência do que muito veículo tradicional de comunicação por aí. Quando eu digo audiência, calma, não são milhares de seguidores. É o relacionamento entre as pessoas ligadas por um tema.

Você e o noticiário estão juntos e misturados. Quer uma prova? Vá até o seu site de notícias preferido e veja “as mais lidas”. Pois é, o que você clica é monitorado. É por isso que o pobre Caetano não pode sair para comprar pão sem um paparazzi por perto. Você precisa se conhecer melhor. Nós, brasileiros, adoramos ver e sermos vistos. Amamos novelas, adoramos personagens.  É esse o motivo de ter uma pessoa, que lhe parece familiar, empurrando um carrinho de compras durante a matéria sobre o índice de inflação. Os veículos de comunicação estudam com muito carinho como lhe contar as coisas. Eles pesquisam o que você sabe, se é preciso descomplicar sobre o superávit ou decifrar aos mais jovens o que é FMI. A linguagem é de fácil compreensão, objetiva, une gregos e troianos. Falar bonito, em Jornalismo, é falar de forma simples.

Mas, afinal, você pode questionar – e com razão – que nem tudo é do seu interesse. Imagens de dezenas de pessoas andando por trilhos de trem em dia de enchente pode não ter nada a ver com você. Pois é. Mas nas esquinas de milhares de brasileiros é isso o que está acontecendo. Aliás, esgoto não é tratado, as ruas são de terra e a convivência com tráfico ou milícia – ou ambos – é comum em boa parte do país. Sabe, essas pessoas são milhares e invisíveis para meio mundo. Se for difícil entendê-las, posso lhe dizer que elas também não sabem em que mundo você vive. Elas sobrevivem e não têm acesso às mesmas informações que você. 

Não importa a qualidade da conexão nem a que classe social pertencemos. Ninguém domina a interpretação dos fatos.

Marshall McLuhan falava que os meios de comunicação são uma extensão do corpo humano. No século passado, o danadinho já tinha razão.

Realmente, não é para amadores.

Andrea Pontes Natal – mãe do Giovani (menino lindo) e do Yufi (filho peludo e de quatro patas), mulher do Renato. Faz o possível e falha miseravelmente.

1 comentário em “Há quase cinco anos”

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