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Quanto mais?

por Suzi Márcia Castelani

O terreiro deve ser varrido em carreirinha. O rastro da vassoura precisa formar um desenho bonito. Você tem que andar de fasto enquanto varre, para não deixar as marcas dos pés. Folha caída no chão não é sujeira, mas dá um ar de desmazelo.

Seu João atrasou três dias a entrega do carrinho de pó-de-serra e teremos que cozinhar no fogão com lenha. O gás é só para fazer café cedo, para comida de sustância não presta.

Catar feijão é serviço de menino. Descascar milho também. Escola só depois das tarefas cumpridas, no capricho. Nada é mais nobre que o trabalho.

Dona Jurema, toda catita, a me receitar Rugol para passar no rosto. Olhei na cara dela e me despedi, sem responder. Precisava?

Varro o último pedaço de terra do quintal, em carreirinha, junto as folhas numa bacia e jogo no buraco aberto no meio da horta. Fico um tempo mirando as folhas, dentro do buraco, imaginando quanto mais teria que cavar para caber ali uma pessoa.

Mãe, já botei o feijão no fogo!

Para uma criança, o buraco já tem tamanho suficiente.

Tá bom! Tô indo.

O que dá pra fazer no dia se não tiver ninguém pra quem ter que fazer coisas no dia? Como pode ser o dia de uma pessoa se ela for só uma pessoa? Penduro a vassoura na parede e subo os degraus que levam à varanda. Abro a torneira do tanque, deixo a água escorrer sobre as mãos lavando a terra vermelha que parece sangue.

O soar do apito da panela de pressão denuncia: é chegado o momento de tirar uma acha de lenha para diminuir o fogo.

Suzi Márcia Castelani

Coeditora

4 comentários em “Quanto mais?”

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